domingo, 4 de setembro de 2011

Filme Tentacular | YellowBrickRoad

Avaliação:




Alguns filmes de terror ficam na cabeça e são difíceis de esquecer.

É engraçado, mas nem sempre isso tem a ver com uma determinada cena ou com alguma coisa especificamente horripiliante. Certos filmes conseguem ficar na nossa cabeça por algum pequeno detalhe que despertam em nossa imaginação. Assim acontece comigo quando lembro do filme "O Iluminado". O filme todo é ótimo, mas aquela cena de um sujeito vestindo uma fantasia de urso num dos quartos é tão bizarra que ela sempre me vem à cabeça quando penso no filme.

Semana passada assisti um filme e me surpreendi com quantas vezes me peguei pensando nele. O título original é YellowBrickRoad (tudo junto como uma palavra enorme) lançado esse ano.

Eu gostaria de dizer que é um filmaço, que ele ficou na minha cabeça em função de ser um tremendo filme de horror e que mal posso esperar para assisti-lo novamente. Mas não é esse o caso... YellowBrickRoad é um filme que se dá ao luxo de pegar uma ótima (e assustadora) premissa, temperar com algumas situações bem engendradas, criar tensão no espectador e no fim estragar tudo com um final digno de figurar entre os piores da história.

Vou fazer uma analogia aqui: assistir a YellowBrickRoad é como receber uma enorme caixa de presente de aniversário, abrir e descobrir outra caixa no interior da primeira, abrir e achar outra, e outra até chega à uma pequena e última caixa... e depois de abrir não achar nada lá dentro.

Não estou exagerando, é isso mesmo. Eis aqui a excelente premissa:

Em 1940, os habitantes de Friar, uma tranquila cidadezinha no interior da Nova Inglaterra (sempre lá!) simplesmente abandonaram suas casas e se embrenharam em uma trilha que corta uma floresta, a tal Yellow Brick Road (Estrada de Tijolos amarelos). Na pressa deixam para trás seus objetos pessoais e suas vidas. Alguns foram encontrados congelados, outros misteriosamente mutilados na beira da estrada. Apenas uma pessoa sobrevive e seu testemunho é confuso e inconclusivo. Setenta anos mais tarde, os documentos sobre o caso vem à público. De posse dos registros policiais, um casal que pensa em escrever um livro à respeito do acontecido, reúne outras seis pessoas e resolve seguir a mesma trilha e tentar descobrir o que aconteceu com os moradores de Friar.

Esse resumo deixa no ar uma série de perguntas e tudo leva a crer que elas serão abordadas no decorrer do filme e respondidas no final. Ao menos é o que acontece normalmente, não é? Bem, nem sempre...

É inegável que YellowBrickRoad tem um grande conceito, ele trabalha bem a idéia intrigante do prólogo e até seu trailer parece promissor. É impossível assistir esse filme sem lembrar de A Bruxa de Blair descontando a irritante câmera tremendo e desfocada. A equipe de exploradores (investigadores?) planeja desvendar o mistério da estrada assombrada e entender que motivou as pessoas a abandonar suas vidinhas pacatas para morrer em uma das regiões mais inóspitas da Costa Leste americana. Essa é uma grande idéia.

Logo no início do filme, e da trilha, o grupo chega a Friar e visita um velho cinema que é onde a antiga trilha supostamente começava. Ninguém no povoado parece muito interessado em falar do assunto, mas a equipe acaba recrutando mais um componente para o grupo, uma moça que sempre vivieu no lugar e que alega saber alguns detalhes da tragédia. Em seguida iniciam a jornada pelos tais tijolos amarelos (que não aparecem em momento algum do filme!).

O ritmo é lento, mas fica a espectativa de que alguma coisa bizarra vai acontecer mais cedo ou mais tarde. À medida que o grupo segue pela trilha e adentra a floresta a civilização vai ficando para trás e sendo substituída por uma aura de isolamento desolação. Depois de alguns dias de caminhada o GPS começa a falhar e o grupo descobre que já avançou muito terreno adentro para voltar, o jeito é ir em frente.

Coisas estranhas então começam à acontecer. Primeiro é o estado de espírito de cada pessoa que muda, como se a viagem de alguma forma estivesse causando danos na mente de cada um. Mas o terror começa a se instalar quando uma música de época passa a ser ouvida dia e noite vinda de lugar nenhum. Minado em sua resistência física e fragilizado psicologicamente, um dos membros da expedição acaba cometendo um ato chocante e sangrento.

O ritmo lento do início da jornada parece que finalmente vai ser quebrado, mas a tensão jamais atinge o climax. O resultado infelizmente é pura frustração.

YellowBrickRoad é um filme de orçamento modesto, mas essa não é uma desculpa aceitável para o resultado muito aquém do que se esperava. A produção está em ordem, o elenco não é ruim, os diálogos parecem bem escritos e a filmagem também não compromete. O principal problema do filme acaba sendo o roteiro que começou tão bem e que termina tão mal.

Existem méritos, o diretor é bem sucedido em estabelecer o clima de suspense com algumas cenas impactantes (as ondas sonoras principalmente), mas o grande pecado é que no fim os mistérios que são propostos jamais encontram solução. Não se fica sabendo o que motivou a tragédia em Friar, porque o GPS falhava, de onde vinha a música, qual o seu significado e porque a personalidade das pessoas mudava tanto ao andar pela estrada. Também não se sabe o que seria a tal Estrada de Tijolos Amarelos. Uma alusão a O Mágico de Oz, quem sabe?

Quando você assiste a um filme fica esperando por um desfecho, mas este não apenas priva o espectador de uma explicação, como oferece em seu lugar uma conclusão tão absurda que chega a ser constrangedora. A idéia talvez fosse passar uma sensação de sonho/pesadelo, como ocorre nos filmes de David Lynch, se é isso mesmo, o resultado falha de modo catastrófico.

É o tipo de fim que deixa você coçando a cabeça e pensando que haveriam mil outras maneiras de encerrar o filme, e que escolheram justo a pior delas. E justamente por isso que YellowBrickRoad ficou na minha cabeça ao longo da semana. Fiquei tentando preencher as lacunas e encontrar alguma solução mais palatável.

De positivo, o fato que pretendo usar a idéia mais cedo ou mais tarde em um cenário de horror como Call of Cthulhu ou quem sabe Fear Itself. De preferência com começo, meio e fim.

Para quem ficou curioso, aí está o trailer:

9 comentários:

  1. Obrigado pela dica estou correndo pra ver se encontro o filme.
    Acho que outra dica bacana é uma já dada aqui no blog o "La Herancia Valdemar" muito bacana até o Lovecraft aparece.

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  2. Beleza Bruno, mas não vá esperando muita coisa. O filme como eu disse tem uma boa idéia, uma execução razoável e um fim pífio.

    O primeiro "la Herência" teve uma resenha aqui no Blog. A continuação terá uma resenha hora dessas.

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  3. O filme lembra uma aventura de Cthulhu, mas o final é de doer mesmo.

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  4. Aguardaremos a sua adaptação aqui no blog! E esperaremos qual fim você vai dar a aventura.

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  5. Apesar de algumas atuacoes duvidosas o filme eh bacaninha. O final eh que foi muito "Twilight Zone" pro meu gosto.

    Le Herencia Valdemar I eh bem interessante mas a continuacao eh uma bomba.

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  6. fiquei curioso. passou aqui em porto alegre, no fantaspoa, mas nâo cheguei a assistir.
    quanto a herencia valdemar, também me decepcionei com a parte 2. a primeira foi muito superior.

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  7. Filme já disponível para download, aos interessados.
    http://www.sbtfilmes.net/2011/07/download-yellowbrickroad-legendado/

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  8. não estou conseguindo achar este filme, me ajudem por favor, preciso assistir.

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  9. Sómente hoje consegui assistir a esse filme... como fiquei com varias interrogações no final, resolvi procurar na internet algumas explicaçoões, e foi aí que encontrei esta resenha/avaliação ! Gostei muito de tudo que voce escreveu sobre o filme, e no fim você tem toda razão em tudo que disse!

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