quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Diários de Bordo - O relato dramático do avistamento de Monstros Marinhos

Os mares sempre foram uma fonte inesgotável de terrores insondáveis. O conceito de monstros marinhos, é quase tão antigo quanto as primeiras embarcações que se lançaram nos mares revoltos, aventurando-se cada vez mais longe da segurança da terra firme. As estranhas criaturas que eram avistadas nessas viagens despertavam um misto de temor e fascínio nos marinheiros. Incapazes de compreender o que estavam vendo, os homens atribuíam a estes animais conceitos lendários, apavorantes e na maioria das vezes exagerados. 

 Serpentes marinhas, sereias, monstros escamosos, criaturas tentaculares, seres das profundezas, baleias colossais do tamanho de ilhas... o mar parece exercer um estranho poder de sugestão sobre a mente daqueles que viajam através dele. Não por acaso, histórias de marinheiros raramente são levadas à sério e qualificadas como tolices. Mas nem por isso, tais relatos deixam de oferecer um curioso panorama sobre a vida destes valentes homens do mar. 

 O Ministério da Defesa da Grã-Bretanha, por exemplo, não mantém registros à respeito do avistamento de "monstros marinhos", mas as tripulações de navios e submarinos que alegam ter avistado tais seres, nunca foram proibidas de anotar suas experiências nos diários de bordo. Recentemente, centenas de diários de bordo em poder do Arquivo Geral da Marinha do Reino Unido em Keys foram abertos para consulta, como resultado do Ato de Liberdade de Informação assinado pelo Departamento de Defesa. Estes diários de bordo, alguns bastante antigos, remetendo ao período das Grandes Navegações e das viagens ultra-marinhas contém descrições e o testemunho de homens confrontados por coisas que eles próprios eram incapazes de entender. 


O acesso a estas informações é valioso não apenas para os historiadores, mas para os biólogos e oceanógrafos que tem a chance de encontrar aqueles que podem ser os primeiros registros sobre animais até então pouco conhecidos e sobre os quais, mesmo hoje, pouco se sabe. O biólogo marinho Ronald Darby, da Universidade de Aberdeen, vem realizando pesquisas nos arquivos recém liberados, vasculhando diários de bordo escritos no século XVII e encontrou várias descrições de criaturas consideradas monstruosas pelos marinheiros da época. Ele se concentrou em descrições que incluíam as palavras "monstros gigantescos" e "animais incomuns". Segundo o porta-voz do Ministério da Defesa, a Marinha Real jamais manteve qualquer tipo de arquivo ou repositário de informação exclusivamente devotado a "monstros marinhos". Ele reconheceu, entretanto, que era procedimento comum que os capitães encorajassem seus imediatos a tomar notas detalhadas sobre avistamento de animais peculiares em geral mamíferos marinhos. 

 Um dos mais famosos relatos sobre monstros marinhos foi feito pelo capitão e os oficiais da fragata HMS Daedalus que contornava o Cabo da Boa Esperança no Pacífico Sul em agosto de 1834. Ao retornar para a Inglaterra, o capitão Peter M'Quhae, enviou detalhes para o Almirantado e para o jornal The Times sobre o que haviam visto. O relato do capitão incluía a descrição de uma espécie de serpente marinha com mais de 18 metros de comprimento que ficou visível por cerca de 20 minutos. O animal, de uma espécie jamais antes vista, nadou ao redor do Daedalus emergindo em alguns momentos para emitir um longo canto que parecia ser o choro de uma criança. O animal ficou distante da embarcação e na única oportunidade que se aproximou o suficiente, os oficiais dispararam contra ele sem obter qualquer resultado. O monstro depois afundou e não retornou mais. 


O que tornou esse registro famoso é que o Capitão M'Quhae era extremamente respeitado pelos seus colegas e considerado um homem acima de qualquer suspeita, sempre sensato e com um currículo impecável de serviço náutico. Outro detalhe interessante é que o relato era acompanhado de desenhos feitos por um talentoso marinheiro que captou toda uma aura de estranheza que cercava a inacreditável criatura.

O Times chegou a oferecer uma recompensa para relatos fidedignos sobre avistamentos de animais marinhos incomuns, mas logo teve de retirar a oferta por se ver inundado de relatos, alguns claramente fabricados, envolvendo monstros de todos os tipos. O início do século XIX, aliás, pode ser considerada a Era de Ouro dos relatos de Monstros Marinhos. As pesquisas nos arquivos do Almirantado revelaram dezenas de alegados avistamentos dessas criaturas fantásticas, muitos deles exagerados como a estória contada pela tripulação do HMS Waxpole que afirmou ter avistado uma serpente com mais de 100 metros de comprimento que ergueu a fragata e por pouco não a arrastou para as profundezas quando mergulhou criando um redemoinho. Outro relato incrível foi anotado pelo Capitão James Stockdale em maio de 1850. Stockdale e a tripulação da barca Rob Roy estavam próximos da ilha de St Helena quando o vigia ouviu um som estranho de respingos na água. Quando ele se inclinou para examinar o casco do navio, se deparou com a enorme cabeça de uma serpente marinha que se erguia da água a quase dois metros de altura. 

O homem alertou os demais tripulantes que chegaram a tempo de testemunhar que a estranha criatura tinha uma cauda crispada em forma de pipa e espinhos ao longo de seu dorso. Segundo o capitão, o animal deveria ter algo em torno de 20 metros de comprimento. "Coberto de escamas, sua coloração era verde-acinzentada, sendo que o fato mais marcante era a cor amarelada de seus grandes olhos visíveis mesmo na escuridão da noite e sob a água". Os marinheiros que passaram por um cuidadoso interrogatório confirmaram a mesma narrativa. 

Essa imagem de um monstro com olhos luminosos foi usada por Julio Verne em seu clássico romance "Vinte Mil Léguas Submarinas". Em determinado momento, um dos personagens do livro afirma que um monstro de olhos luzindo como o fogo do inferno fora avistado nas imediações de St Helena. No caso, o monstro era o fantástico submarino Nautilus do Capitão Nemo. Outro caso sensacional foi arquivado pela Diretoria de Comércio Mercantil em 1857. Trata-se de um Diário de Bordo assinado pelo Capitão George Henry Harrington do navio mercante Castilan em viagem pelo Pacífico Sul. Em 13 de dezembro, o capitão foi chamado para ver um "enorme animal marinho"que havia emergido a cerca de 200 metros do navio. 

O Capitão pensando se tratar de uma baleia ordenou que os homens descessem um bote para arpoar o animal. O bote com 12 marinheiros experientes se aproximou lentamente e quando chegou a 50 metros da corcunda que se projetava para fora da linha d'água relataram que a coisa se assemelhava a uma longa boia coberta de manchas esbranquiçadas. Nisso, sem aviso, uma enorme cabeça de tartaruga, coroada com espinhos se ergueu da água para encarar os tripulantes apavorados. Segundo o registro "a coisa tinha um extraordinário comprimento, sua carne era flácida, branca e rugosa, com barbatanas dorsais quadradas na ponta". Os homens do bote que o viram de perto afirmaram ter sentido um forte cheiro de sal emanando da criatura que ao perceber a presença do bote submergiu e nadou ameaçadoramente ao redor do pequeno barco. Assustados, os homens no Castile dispararam tiros de mosquete e atraíram a atenção do monstro que passou próximo ao costado esbarrando bruscamente no mercante. Os marinheiros afirmaram que ele deveria ter pelo menos 50 metros de comprimento. 

Mas não há apenas relatos sobre serpentes marinhas nos Diários de Bordo. Da mesma forma, nem todos eles são dos tempos das Grandes Navegações. Um dos relatos mais estranhos data de 1916, escrito pelo primeiro imediato James Dooney do Navio de Guerra HMS Culver que patrulhava a costa de Dover durante a Grande Guerra. Os marinheiros informaram o avistamento de uma estranha luz submarina. Investigando com mais cuidado, os marinheiros perceberam o surgimento de estranhas bolhas e a liberação de um gás de odor sulfúrico. Vários peixes boiavam mortos em uma longa faixa. Acreditando se tratar de um tipo de erupção marinha, o navio se preparava para deixar a área, quando de repente uma espécie de animal nunca antes visto emergiu da água e violentamente se chocou com o Culver. Os homens correram para seus postos acreditando se tratar de um U-boat alemão prestes a lançar torpedos na água. 

O Culver se afastou rapidamente e foi perseguido pela criatura desconhecida cuja forma semelhante a uma bolha disforme de coloração pálida podia ser divisada sob a água. Os vigias informaram ter visto a enorme criatura se erguer pelo menos duas vezes e nadar ao lado do navio. Finalmente, a coisa submergiu e desapareceu quando a embarcação se aproximou da costa para alívio dos tripulantes. O relato foi enviado para o Departamento de Guerra, mas o incidente não foi esclarecido, embora um inquérito tenha sido instaurado. 

Na época, traineiras e barcos de pesca também avistaram a estranha criatura que ganhou o apelido de "Fera Marinha de Dover". Igualmente estranha é a narrativa contida em um diário de bordo datado de 1943 no auge da Segunda Guerra. O registro em questão foi feito pelo Capitão do HMS Coreopsis, um navio de patrulha britânico que capturou marinheiros alemães à deriva no Mar do Norte. Ao serem rendidos pelos britânicos, os alemães não ofereceram resistência e logo se entregaram. 

Na verdade, eles pareciam aliviados em ver outras pessoas, mesmo que fossem inimigos. A tripulação pertencia ao submarino UB-85 e se resumia a meros 14 indivíduos. Ao serem interrogados, os prisioneiros relataram uma história inacreditável. 


Um oficial do submarino revelou que a missão consistia em torpedear navios mercantes que seguiam para o continente europeu e cortar as rotas de abastecimento. O submarino estava em perseguição a um comboio, mas havia perdido o contato com sua presa. O Capitão dera permissão para que o submarino viesse à tona para recarregar as baterias e para que os homens pudessem respirar um pouco de ar ou fumar. Enquanto estavam na superfície, o submarino foi cercado por uma densa neblina e logo em seguida atacado por uma enorme "criatura marinha parecida com um gigante cobertos de escamas de peixes". A tripulação, surpresa para dizer o mínimo, começou a atirar contra a criatura que danificou o lacre da escotilha principal do submarino. O oficial informou ainda que o pânico ocasionou um incêndio à bordo. 

Os homens conseguiram afugentar o gigante que afundou no mar, mas o submarino havia sido danificado a ponto de não poder submergir. O Capitão ordenou que a embarcação seguisse para o norte a fim de tentar acenar para aviões de reconhecimento. Segundo o oficial, quando esse plano não logrou êxito em virtude das péssimas condições de tempo, o capitão decidiu explodir o submarino para não permitir que ele caísse nas mãos dos aliados. Ele deu ordens para evacuar a tripulação em botes de emergência enquanto o U-boat era explodido com cargas. 

 A parte mais sombria da narrativa dava conta que três botes foram para a água com 38 tripulantes. Mas apenas um deles foi resgatado pelos britânicos. Os outros dois se perderam em um denso nevoeiro semelhante ao que cobriu o submarino pouco antes dele ser atacado pelo monstro. Uma investigação formal foi conduzida para atestar os fatos, mas ela não conseguiu dar um fechamento para o caso. Sem poder corroborar os acontecimentos, as autoridades concluíram que o UB-85 havia sofrido danos causados pela própria tripulação - talvez em um acidente não-intencional, que acabou resultando em seu afundamento. O inquérito sequer considerou o relato à cerca do alegado "monstro marinho". O paradeiro dos marinheiros desaparecidos jamais foi determinado e eles foram considerados como baixas de guerra. O mar continua a despertar fascínio e medo e é provável que seus mistérios jamais sejam inteiramente revelados. 

Como diz um trecho da Rime of the Ancient Mariner: "O mar lança seu feitiço que atrai os homens para seu seio, E nele, desfrutam de aventuras e jornadas, compelidos a esquecer o que de mais aterrorizante esconde em suas profundezas".

6 comentários:

  1. O post está muito bom!

    No entanto,confira estes dados aqui:

    http://uboat.net/wwi/boats/index.html?boat=UB+85

    e este aqui:

    http://uboat.net/boats/u85.htm

    abs

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  2. Vou tentar atualizar este para um aventura ao estilo ARQUIVO X com as regras de Call of Cthulhu.

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  3. Avisamentos de criaturas estranhas são algo muito interessante e perturbador. Se considerar que realmente conhecemos e temos catalogado somente uma parte de toda a biodiversidade que existe, faz pensar que pode ter muita coisa bizarra ainda por aí.
    E ainda considerando que sabemos mais sobre o espaço que sobre o fundo de nossos oceanos, deixa a cargo da nossa imaginação tentar vislumbrar o que pode ter lá embaixo...

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  4. Muito boa a postagem, mas o U-85 foi afundado em abril de 1942 na costa dos EUA e não deixou sobreviventes.

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  5. OOooopps...

    Realmente vocês estão certos. Eu me confundi na hora de escrever a postagem e descrevi de forma errada os acontecimentos do U-85.

    Ele realmente afundou na costa americana depois de um suposto encontro com uma serpente marinha.

    Desculpem a confusão...

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