segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Morte Flamejante - A História Mortal dos Lança-Chamas

Fogo é um dos fenômenos da natureza mais úteis para a humanidade. Quando os primeiros homens descobriram o segredo do fogo, suas vidas mudaram drasticamente. Com essa compreensão, eles tinham luz e calor para enfrentar a escuridão da noite. Eles podiam aquecer e cozinhar seus alimentos. Podiam espantar os animais selvagens. Podiam fundir metal e construir objetos em fornalhas.

Mas o fogo também sempre foi uma arma eficiente. Evidências arqueológicas atestam que os primeiros guerreiros já empregavam o fogo como arma contra seus inimigos. Guerreiros na Era do Bronze usavam bombas improvisadas de enxofre ou betume para queimar seus oponentes. Soldados do Império Assírio combinavam fogo às suas flechas para levar aos seus inimigos uma chuva de chamas, isso no século IX A.C. Os gregos sempre engenhosos, foram os primeiros a usar o fogo como arma de destruição em campanhas navais. O legendário fogo grego permitiu aos Bizantinos defender a cidade de Constantinopla por séculos contra os conquistadores muçulmanos.

Ao longo da história humana, o fogo se mostrou uma arma extremamente eficiente e com resultados devastadores. aqueles povos que dominavam o uso do fogo em batalha tinham uma enorme vantagem.

Um dos mais interessantes progressos militares envolvendo o fogo sem dúvida foi a criação do Lança-Chamas. O lança-chamas moderno foi aperfeiçoado apenas no início do século XX, mas o conceito original é muito mais antigo. Alguns desenhos mostram que armas capazes de cuspir fogo à distância já eram pesquisadas no século VI. Os chineses também fizeram experiências com lança-chamas primitivos propelidos com pistões.

Na Grande Guerra, o exército alemão redescobriu o lança-chamas e o adicionou ao seu arsenal, em uma nova e mais mortal encarnação. Chamado de Flammenwerfer, o protótipo foi testado pelo exército em 1901 e considerado com uma arma de enorme potencial na guerra moderna. Mesmo assim, os alemães estavam reticentes em empregar o lança-chamas em batalha por considerá-la demasiadamente cruel. Ela foi usado pela primeira vez em julho de 1915 na Batalha de Hooge e causou enorme dano às tropas britânicas. Mais do que o dano físico, os lança-chamas criavam um profundo dano psicológico aos soldados das trincheiras. Relatos de soldados fugindo em desespero de suas posições (e sendo colhidos pelas balas de rifles e metralhadoras) se tornaram frequêntes.

Os alemães aprenderam a tirar o máximo proveito do terror que a arma despertava e a empregavam de modo eficiente. Uma coluna de seis homens com lança-chamas avançavam em linha disparando contra as posições inimigas. A visão deveria ser horrível: línguas de fogo lançadas a até 18 metros que queimavam sem parar. Os soldados que manuseavam o lança-chamas vestiam uma indumentária aterrorizante composta de máscara e uniforme especialmente projetado para criar terror.

Os lança-chamas no entanto eram perigosos tanto para quem os enfrentava quanto para os que o manuseavam. As baixas eram frequentes e especialistas nessas armas morriam cedo e de forma dantesca. Um tiro no cilindro do lança chamas podia causar uma explosão e qualquer descuido corria o sério risco de acabar muito mal.

Os britâncos não ficariam muito tempo para trás. Apesar de condenarem formalmente o uso de lança-chamas diante da Liga das Nações, os ingleses faziam testes para seus próprios equipamentos. O Livens Flame Projector foi a resposta dos britânicos, usada em batalhas importantes como a do Somme em 1916.

O primeiro lança-chamas inglês não era manual, além disso era bem pouco preciso e muito perigoso. Ele precisava ser operado por uma equipe de três pessoas, sendo que dois infelizes ficavam incumbidos de empurrar a traquitana colocada num carrinho de mão e bombear o conteúdo de seu reservatório enquanto um terceiro apontava e disparava a arma. Nem é preciso dizer que o modelo logo foi abandonado. Os ingleses engoliram seu orgulho e passaram a copiar descaradamente o projeto alemão para seus próprios lança-chamas.

O Flammenweffer era uma arma bastante engenhosa em sua concepção. Composto de dois cilindros de ferro com 1,20 de comprimento e pesando 14 quilos, a coisa era carregada nas costas como uma mochila. Um dos cilindros estocava gás pressurizado (geralmente butano) e o outro combustível inflamável à base de petróleo. Uma válvula era acionada liberando o fluxo através de uma mangueira de borracha conectada por sua vez a uma vara de metal de 1,60 m. Essa vara tinha um gatilho e quando pressionado liberava o gás e o líquido inflamável como uma mangueira. Na ponta estava posicionado um isqueiro responsável por criar uma fagulha que acendia a combinação ejetada.

O resultado era algo parecido com isso:

Os lança-chamas manuais eram práticos e na teoria a arma perfeita para lutas em curta distância ou em terreno de trincheiras. Um disparo podia desentocar uma guarnição inteira e a potência do líquido inflamável era tamanha que nada conseguia apagar as chamas por ele provocadas. Os soldados usavam normalmente uniformes de algodão e couro, incapazes de protegê-los contra as chamas infernais. Quando atingidos eles se lançavam no chão, gritavam e queimavam até a morte... de nada adiantava as tentativas de socorro dos seus companheiros, o mais eficiente era poupá-los da agonia com um tiro. O índice de letalidade de um disparo de lança-chamas era altíssimo, apenas superado pelas armas químicas largamente usadas na Grande Guerra.

Em teoria, o lança-chamas era a arma definitiva, mas na prática as coisas não eram tão perfeitas. Muita coisa podia dar errado, desde o momento de carregar o lança-chamas com combustível até a hora de abrir a válvula e disparar. Muitos soldados costumavam raspar um "x" no cilindro para demonstrar quantas vezes usaram o equipamento com segurança. A média de um soldado treinado portando o lança-chamas na Grande Guerra era 3 vezes sem um incidente. A quarta vez podia ser fatal.

Após a Grande Guerra, o lança-chamas continuou a ser empregado e mudanças foram feitas para torná-lo mais seguro. Lança-chamas no período entre as guerras ganharam válvulas de segurança que fechavam o suprimento de combustível quando o cilindro era avariado. A vara de metal foi substituída por um tipo de pistola comprida munida de uma chama piloto acionada pelo operador que lhe permitia mais controle sobre a chama propelida.

Os lança-chamas foram largamente usados nos turbulentos anos 30 por exércitos em todo mundo. Os fascistas italianos usaram lança-chamas na Namíbia contra rebeldes armados com lanças e escudos. Os espanhóis usaram lança-chamas no levante do Marrocos e promoveram a destruição de povoados inteiros. Os japoneses usaram o lança-chamas extensivamente na invasão da Manchúria e chegaram a empregar a arma como ferramenta de execução, incendiando prisioneiros amarrados. Na América do Sul, o exército do Paraguai usou lança-chamas sucateados da Grande-Guerra no Conflito do Chaco contra os bolivianos em 1933.

Os lança-chamas aperfeiçoados foram empregados na Segunda-Guerra por praticamente todos os exércitos envolvidos no conflito. Ele foi usado pelos nazistas contra os guerrilheiros poloneses e fez arder piras enormes nas ruínas de Varsóvia. Os britânicos o usaram no Norte da África no avanço de Montgomery até Suez. Os americanos o empregaram em Guadacanal e em toda ofensiva do Pacífico contra os japoneses. Os russos incendiaram posições alemãs em Stalingrado. No desembarque do Dia D, soldados aliados pisaram nas praias da Normandia carregando lança-chamas em suas costas e eles foram essenciais na ocupação da costa pontilhada por bunkers.

Mesmo depois da Segunda Guerra, a arma encontrou seu caminho em um mundo militarizado e violento. Nas ravinas congelantes da Coréia, nas selvas sufocantes do Vietnã e no deserto afegão ele lançou morte flamejante à distância. Nos exércitos modernos, o Lança-Chamas continua sendo uma arma temida empregada de forma moderada, mas ainda terrível em seus resultados.

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