quarta-feira, 17 de outubro de 2012

A Guerra dos Mundos - Rádio transmissão aterroriza a América noticiando uma Invasão Marciana



Menos de 70 anos atrás, a televisão estava apenas em fase experimental e nos Estados Unidos, o rádio era o rei indiscutível das ondas curtas. Três em cada quatro famílias americanas já possuía um aparelho (oito milhões foram vendidos só em 1936), mas, como muitos iriam descobrir, essas pessoas ainda não estavam totalmente em sintonia com o poder deste novo e excitante meio de comunicação. O despertar veio na noite de Halloween de outubro de 1938, quando um jovem e brilhante autor chamado Orson Welles confrontou os medos subconscientes de uma nação fazendo milhares de pessoas (talvez muito mais) realmente acreditar que marcianos estavam invadindo a América.

Inacreditavelmente, a causa deste caos foi uma apresentação dramática (e muito realista) de "A Guerra dos Mundos", romance seminal de ficção científica, escrito 40 anos antes por H.G. Wells. Mas como e por que isso tudo isso aconteceu? Há várias razões, mas primeiro vale a pena ressaltar que o rádio era algo novo e excitante naquela época. As grandes redes de rádio como a ABC, NBC e CBS existiam há apenas uma década e estavam envolvidas em um frenesi de experimentação, enchendo as ondas com enorme quantidade de material original: comédias, dramas, musicais, propagandas e um novo estilo de jornalismo que abriu ao público dos EUA uma consciência sobre o tamanho do mundo.

Os americanos eram agora capazes de se conectar com um mundo em rápida transformação e ouvir os formadores de opinião como nunca antes. Um pioneiro notável nesse campo foi o presidente Franklin D. Roosevelt, cujo programa "Conversas ao pé da lareira", trouxe a voz do governo para dentro da casa das pessoas. Eventos e notícias deixavam a nação em polvorosa. Boletins sobre a caça ao sequestrador do bebê do aviador Charles Lindbergh manteve ouvintes em suspense durante meses em 1932. Em 1936, o correspondente de guerra Hans Von Kaltenborn tornou-se o primeiro repórter americano a transmitir ao vivo de uma zona de guerra, quando ele trouxe os sons reais de uma batalha da Guerra Civil espanhola para dentro de casa. Igualmente dramático foi o acidente fatal do dirigível Hindenburg, gravado em 6 de maio de 1937 por Herbert Morrison da WLS uma estação de Chicago, um evento que levou o repórter às lágrimas de frustração e horror. Sem dúvida, as transmissões preocupantes sobre a Alemanha nazista causaram enorme abalo nos EUA. Durante a Crise de Munique em setembro de 1938, mais rádios foram vendidos aos americanos do que em qualquer outro período histórico. Todos desejavam saber como o Chanceler Hitler havia reunido suas forças e porque o mundo caminhava à passos largos para uma nova e devastadora guerra.

Neste clima de tensão, Orson Welles e sua equipe estavam preparando a sua apresentação mais recente Teatro Mercury, um show da CBS que já havia dramatizado romances como "O Conde de Monte Cristo" e "Drácula". Em face disso, "A Guerra dos Mundos" não deveria ter tido nenhum efeito maior sobre o público do que as transmissões anteriores. Contudo, Welles e seu escritor Howard Koch estavam planejando algo especial naquela noite. Há muito debate se a intenção deles era causar o tumulto e pânico subseqüente, ou se tudo não passou de uma infeliz reação a um show muito bem produzido.

Ao invés de situar a história na Inglaterra vitoriana, conforme escrito por H.G. Wells, a ação foi transplantada para a América contemporânea. De forma ainda mais significativa, Koch contou a história como uma série de flashes que interrompiam sem aviso a programação normal o que soava como um programa real. Este afastamento dos formatos estabelecidos se provou muito eficaz, e combinado com a utilização de numerosos nomes de lugares reais, adicionou de forma significativa a sensação de pânico. Outro fator que contribui, foi que muitos sequer sabiam da transmissão do programa de Welles e sintonizaram na estação depois que ele havia se iniciado. Aqueles que esperavam encontrar uma transmissão normal, encontravam ao invés disso relatos sobre as mais alarmantes e chocantes notícias.

As primeiras notícias transmitidas falavam de explosões de "gás incandescente", observadas no planeta Marte. Depois de um breve interlúdio e de mais música, vinha um gancho direto do Observatório Princeton onde uma entrevista era conduzida com o professor Richard Pierson. Pierson (interpretado por Welles) assegurava aos ouvintes que não havia nada para se alarmar, mas depois os relatos mencionavam o impacto de um meteoro na Terra. É neste ponto que um lugar despretensioso chamado Grover Mills entra na história. Ainda hoje, Grover Mills é um povoado pacato sem importância, mas naquela noite ele estava prestes a se tornar o centro do universo para um número muito considerável de pessoas.

Howard Koch escolheu Grover Mills como o ponto de desembarque para a Invasão Marciana simplesmente espetando um lápis em um mapa de estradas. Ele então, começou a narrar o avanço dos marcianos em direção a Nova York, destruindo as forças armadas americanas e dezenas de cidades ao longo do caminho. Um anúncio de emergência do governo apareceu para dar credibilidade à história, e notícias sobre mais tragédias deixaram os ouvintes em pânico. Em vários lugares, pessoas começaram a telefonar para delegacias de polícia exigindo que as autoridades fizessem algo. Espectadores ligaram para quartéis e bases do exército exigindo que mais soldados se mobilizassem. 

Em Trenton, a sede da polícia, transmitia a seguinte mensagem: "Entre 08:30 e 22:00 recebemos inúmeros telefonemas como resultado da transmissão da CBS referente a um ataque marciano a este país. Não se preocupem, os departamentos de polícia, incluindo Nova York estão em alerta. Manteremos todos informados a respeito desse acontecimento". 

Várias chamadas foram direcionadas ao serviço de telefonista: pessoas desesperadas perguntando como meteoros podiam ter caído na Terra trazendo alienígenas e ninguém ter feito nada. Outros queriam informações sobre o número de pessoas mortas, se havia perigo do gás tóxico usado pelas forças invasoras se disseminar ou sobre qual a estratégia militar seria adotada pelas forças armadas. 

O sistema de telefonia entrou em colapso com a quantidade de ligações de uma hora para outra.

Também de Trenton, veio o relato de uma certa senhora Thomas: "Ficamos petrificados de medo diante da transmissão. Nós apenas olhávamos uns para os outros aterrorizados sem conseguir desligar o rádio. Alguém bateu a nossa porta. Era o vizinho do outro lado da rua. Ele tinha colocado sua mulher e os sete filhos no carro e estava prestes a fugir pois temia que os marcianos estivessem à caminho. Ele trazia uma espingarda na mão e parecia desesperado". 

Henry Sears, de 13 anos, estava fazendo sua lição de casa quando ouviu a primeira notícia sobre a invasão. Ele carregou o rádio até bar onde sua mãe trabalhava e junto com os fregueses ouviu a assustadora transmissão. De repente alguns homens se levantaram e anunciaram que iriam até Grover Mills - que ficava a poucos quilômetros dali - para enfrentar os invasores espaciais com quaisquer armas que pudessem encontrar.

E o que, acontecia a essa altura em Grover Mills? histórias de que moradores apavorados abriram fogo contra uma torre de água, pensando que era um tripóde, uma das diabólicas máquinas alienígenas. Mas apesar dos boletins estarrecedores relatando mortes e destruição, tudo estava calmo no proverbial "olho do furacão". Na verdade, bem poucas pessoas estavam sintonizadas na transmissão de Welles e ninguém imaginava o que estava acontecendo. Ali perto, um estudante chamado Sheldon Jugson, membro do Clube de Imprensa da Universidade de Colúmbia, após ouvir sobre a queda do meteoro partiu às pressas para o povoado esperando ser o primeiro a ver a tal coisa vinda do espaço exterior. Ao chegar a Grover Mills ele se deparou com uma tranquilidade inabalável. Ao bater de porta em porta encontrou os moradores já se preparando para dormir.

Mas a cidade foi uma exceção em meio ao caos instaurado. Muitos relatos atestam que houve um tumulto em outras partes do país, com destruição de propriedade, pilhagem, desordem e brigas nas ruas. Pessoas corriam armadas, milícias se formavam e gente movida pelo pânico era capaz de qualquer coisa. A confusão se espalhou até o Canadá e na fronteira, ouvintes apavorados cobravam do governo providências no sentido de fechar as fronteiras para evitar o ataque dos marcianos. A rádio WABC concorrente da CBS, dizia que não havia qualquer informação oficial sobre a alegada invasão, mas de nada adiantava tentar acalmar as pessoas, o estrago já estava feito.

Acredita-se que muitos ouvintes, sobretudo aqueles que sintonizaram na rádio após o início do programa, entenderam que os alemães estavam invadindo o país. "A sombra da guerra estava em todo lugar e as pessoas estavam em seu limite", disse Welles anos mais tarde.

A medida que notícias do mau entendido começaram a chegar a CBS, a emissora tomou conhecimento do que estava  acontecendo. Há rumores que Welles exigiu que o programa continuasse sendo apresentado e foi atendido já que a audiência estava aumentando exponencialmente a medida que mais e mais pessoas corriam para sintonizar na única rádio que àquela altura noticiava a invasão.

Assim que o programa terminou, a CBS se viu forçada a colocar no ar boletins regulares garantindo que a transmissão era uma encenação, que uma invasão alienígena não estava acontecendo e que a América não estava sob ameaça. Nem todos viram as notícias, muitos já estavam fugindo às pressas ou trancados em porões aguardando os invasores com armas nas mãos.

No dia seguinte jornais de costa a costa publicavam manchetes assegurando que tudo não havia passado de um engano. No período de um mês, os jornais publicaram mais de 12.500 artigos sobre a transmissão e seu impacto. No exterior a transmissão foi motivo de discussão sobre o poder do rádio e muitos cogitaram proibir novas transmissões dessa natureza. Adolf Hitler citou o pânico, como "prova da decadência e condição corrupta da democracia americana". Para muitos analistas a reação dos americanos demonstrava que eles não estavam preparados para uma guerra real e que seu ânimo desmoronaria se confrontados com uma situação de perigo verdadeira.

Ao longo dos anos, Welles contou versões conflitantes sobre o acontecimento, e até tentou reivindicar o crédito pelo planejamento do ocorrido, mas imagens de noticiários na época mostram claramente que ele estava bastante abalado pelo que seu programa havia desencadeado. O mais provável é que nem mesmo um gênio como Orson Welles poderia imaginar a reação ao que ele colocou no ar. O rádio havia confirmado sua força e os meios de comunicação de massa jamais seriam os mesmos. 

"Sussurre diante de um microfone e milhares ouvirão suas palavras, mas entenderão o que bem entenderem", disse um célebre repórter certa vez a respeito da influência do rádio. Ele não estava errado... 

Na janela abaixo está uma cópia da transmissão original feita por Orson Welles. Portanto, diminua as luzes, reúna os seus entes queridos e prepare-se para ser transportado de volta a outubro de 1938, uma época mais simples, quando a vida não era tão complexa e incerta como é hoje, um momento em que as pessoas estavam prontas a acreditar que o que ouviam de uma fonte confiável era toda a verdade e nada mais que a verdade. 

Interrompemos este programa para trazer chocantes notícias...

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3 comentários:

  1. É engraçado que para quem já nasceu na era da tecnologia como a gente, deve até achar meio absurdo esse terror todo, mas pra época, deve ter sido um medo absurdo, eu ficaria com medo, na boa!
    É a mesma coisa se sei lá, começasse a passar na Tv o Willian Bonner falando de uma invasão alienígena em pleno Jornal Nacional.
    Parabéns pela postagem. Ótimo blog.

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  2. E nem é preciso ir tão longe quanto o final dos anos 30. Em 1950 foi feito um show semelhante na Venezuela e o resultado foi o mesmo. Pânico, gente desesperada e confusão para todo o lado. Meios de comunicação em massa tem um poder absurdo.

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  3. Vi isso no History Channel, mesmo assim ficou muito bom, congrats King.

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