quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Cinema Tentacular (das Antigas): Expresso do Horror


Todo mundo, pelo menos todo mundo que gosta de cinema, tem um daqueles filmes baratos que adora assistir repetidas vezes!

Não importa a qualidade do filme, não importa se ele é bom, se é famoso ou se fez sucesso. Não importa também se os outros acham que ele não passa de uma bomba sem pé nem cabeça. É uma questão de afinidade! De carinho, de memória ou provavelmente puro saudosimo...

E é engraçado... isso constuma ser verdade especialmente para os fãs das produções de horror. Todo o verdadeiro fã do bom e velho cinema de horror tem um filme do coração que adora sem uma razão. Para falar a verdade, eu particularmente tenho vários! Uma verdadeira lista de filmes toscos que eu alugava sempre que saia do colégio e assistia na casa de colegas igualmente fanáticos pelo gênero. São filmes que eu próprio reconheço, não são grande coisa, mas que por alguma razão eu continuo assistindo e para os quais eu volto de tempos em tempos, sabendo frases e trechos inteiros e que (surpresa das surpresas) não cansam de me surpreender.

Um dos ilustres filmes que figuram na minha lista é Expresso do Horror (Horror Express). Quem lembra desse pequeno clássico das madrugadas insones?

Eu recordo que ele reprisava ad-nauseum no SBT, e disputava com o infame "A Gangue dos Dobermans" (produção sobre um assalto a bancos que um colega muito bem lembrou era o único em que os cães latiam e a legenda escrevia "au au") o título de filme mais reprisado da história.

Eu me recordo de ter assistido pelo menos umas cinco vezes nas sessões "sem comercial" da madrugada. Naquela época, em tempos antes da TV à cabo e Netflix, quando se perdia a chance de ver um filme significava ficar um tempo sem assistir novamente (ok, nesse caso específico não, mas vocês entendem). Verdade seja dita, eu não queria perder Expresso do Horror (assim como não queria perder Fúria de Titãs, Simbad e o Olho do Tigre, O Enigma do Outro Mundo, O Homem Cobra, Tubarão, Conan, o bárbaro, os Primeiros Homens na Lua etc.).

Mas o que Expresso do Horror tem de tão bom? 

Francamente? Não muito. E mesmo assim eu continuo adorando! Talvez seja justamente o fato da história ser meio sem noção, as situações completamente bizarras e a conclusão beirando o estapafúrdio que me atrem tanto. É um daqueles filmes que existem para ser divertidos. Não é algo que dá medo, não é algo impressionante ou incrivelmente bem feito, mesmo assim é um filme que eu nunca esqueci. Isso sem falar que ele conta com Peter Cushing e Christopher Lee dois monstros sagrados do Horror Britânico que estrelaram alguns dos maiores clássicos da Hammer Films.

Eu tenho certeza que muita gente que está na casa dos 30 e poucos deve lembrar desse filme (ainda mais os leitores fiéis desse Blog). Imagino que muitos vão dizer "Ah, claro! É esse filme!" quando verem as imagens e lerem a resenha abaixo. Com um pouco de sorte vão até se animar e assistir novamente!

Quanto a mim, bem eu já estou um passo à frente! Esse final de semana prolongado, em que eu me peguei em casa numa noite chuvosa, resolvi dar mais uma chance a Expresso do Horror (que agora tenho em DVD!!!).  

E foi com o mesmo entusiasmo de sempre que coloquei o disco no aparelho e entrei numa verdadeira Máquina do Tempo (ou seria trem?). Assisti a jornada de Horror do Transiiberiano como se fosse a primeira vez.

*   *   *

E para os que querem saber um pouco mais a respeito desse filme aqui está a resenha escritas para a revista Dark Side - DVD publicada em março de 2006.

EXPRESSO DO HORROR

por Carlos Primati e Jaime Eduardo Palhinha

Peter Cushing e Christopher Lee já haviam contracenado em pelo menos uma dúzia de filmes de horror quando, em 1972, foram contratados para estrelar a produção anglo-espanhola Expresso do Horror (Horror Express/ Panico em El Transiberiano) filmado em estúdio em Madri, na Espanha. O filme com direção de Eugenio Martin, assinado com o pseudônimo Gene Martin na versão em língua inglesa, conta uma história que combina horror e ficção científica num clima de suspense constante e ação ininterrupta, combinando os melhores elementos destes gêneros e umm istério do tipo Assassinato no Expresso do Oriente, de Agatha Christie.

No filme, uma expedição organizada por uma sociedade geológica britânica na longínqua província da Manchúria em 1906, liderada pelo arrogante Professor Alexander Saxton (Christopher Lee), descobre uma criatura congelada que aparentemente tem milhões de anos. O entusiasmado palentólogo acredita ter descoberto o tão procurado "elo perdido" que explica a evolução do ser humano. Saxton encaixota o seu achado e embarca no expresso transiberiano com destino ao ocidente, sem desconfiar que a proximidade de pessoas reanimou a criatura e que ela está prestes a despertar e espalhar o terror a bordo do trem.

Logo que tem início a viagem, o monstro desperta, e trama sua fuga do caixote firmemente guardado no compartimento de malas, com correntes e cadeados. Uma vez livre ele espalha o medo pelos corredores dos vagões, numa estória acabra que envolve ainda mortos vivos e possessão. O monstro, inicialmente um esqueleto fossilizado, adquire matéria orgânica conforme vai fazendo novas vítimas. O brilho avermelhado de seus olhos revela a capacidade de carbonizar o cérebro daqueles que o olham por alguns instantes. Além disso, ele é capaz de drenar as memórias e o conhecimento das pessoas que ataca: a cada nova vítima, o monstro torna-se mais inteligente e perigoso. 

A bordo do transiberiano encontra-se também o Dr. Wells (Peter Cushing) um biólogo bastante curioso, rival declarado de Saxton que examina as vítimas e descobre informações bizarras sobre as vítimas e o assassino. Em uma das cenas mais famosas, ele realiza uma sangrenta necrópsia em que abre a cabeça de um dos pobres infelizes, apenas para descobrir que as ranhuras no cérebro foram totalmente removidas, deduzindo que a memória da pessoa foi drenada pelo monstro!


A excentricidade da trama - roteirizada por Arnaud D'Usseau e Julian Halevy, adaptada do roteiro original de Eugenio Martin,  está apenas começando.  O que dizer, por exemplo, da teoria retrógrada (e errada) de que a última imagem captada pelos olhos fica gravada na retina no momento da morte?

TRemos ainda no trem outros personagens igualmente fascinantes, incluíndo a bela Condessa Irina (Silvia Tortosa) e seu marido, o Conde Maryan (Jorge Rigaud), acompanhados pelo místico Yevtushenko (Angel del Pozo), uma figura exótica inspirada em Rasputin. A segutora Helga Liné faz o papel de Natasha, uma espiã em missão, acolhida pelo Dr. Wells quando se vê em apuros. O roteiro inquieto - comparável a um trem desgovernado, puxadopor uma locomotiva em disparada - tem uma reviravolta brusca com o surgimento do autoritário cossaco interpretado por Telly Savalas. À essa altura, o trem já está repleto de zumbis e a força da criatura pré-histórica habita diferentes corpos espalhando o caos pela composição.

Expresso do Horror é sem dúvida um dos filmes mais estranhos realizados na Europa no início dos anos 70, apresentado no Festival de Seiges em 1972, ele conquistou o prêmio de melhor filme de horror pelos críticos. Sem dúvida o grande trunfo do filme é contar com a presença de dois ícones do terror. Christopher Lee e Peter Cushing - curiosamente em uma rara ocasião na qual ambois fazem o papel de heróis. Poucos dias antes de serem iniciadas as filmagens, Helen, esposa de Peter Cushing faleceu. O ator, ao chegar a Madri avisou aos produtores que não teria condições de fazer o filme. Seu grande amigo, Christopher Lee o convidou para um jantar, e depois de uma longa conversa, conseguiu convencê-lo a trabalhar na película - como uma forma de superar a perda.


O elenco heterogêneo conta ainda com Telly Savalas, eternamente lembrado como o "Kojak" da série televisiva, no papel do Comandante Kazan - o qual alguns críticos de cinema acreditam ser uma referência a Elia Kazan, que teria denunciado alguns cineastas membros do partido comunista a comissão que investigava atividades anti-americanas nos anos 50. Phillip Yordan, produtor do filme, foi "testa de ferro" para alguns desses escritores perseguidos na "caça às bruxas" que dominou Hollywood nessa época.

O enredo mistura uma boa dose de ficção científica, com clara inspiração lovecraftiana, que mantém durante toda a narrativa um interessante clima em que mistério e terror se mesclam de forma harmônica. O que convenhamos não é muito fácil em um filme que conjulga elementos diversos como zumbis, monstros pré-históricos e possessão no ambiente claustrofóbico de um trem. O filme, no entanto, não se vale apenas de um roteiro excêntrico e de alguns astros. O nível da produção é surpreendentemente alto, graças a um acordo que possibilitou reaproveitar os cenários da superprodução Nicholas & Alexandra, que acabara de concluir as filmagens usando os mesmos cenários e figurinos. Expresso do Terror se vale de excelentes interiores e de um modelo usado para os truques de filmagem, resultando em efeitos visuais convincentes. A fotografia de Gustavo Ulloa também se destaca, brilhando nas cenas externas e utilizando sombras e escuridão no smomentos mais tensos. A música de John Cacavas inclui um tema central melodioso, usado de maneira eficaz desde os créditos de abertura, até o momento em que descobrimos que a criatura se apossou da personalidade de sua vítima, tudo narrado sem palavras, apenas com um assobio sinistro.


Ainda que seja um exagero considerar Expresso do Horror como uma obra-prima no mesm nível dos filmes de horror ingleses da época - produzidos pela Casa do Terror, a Hammer, Expresso do Horror conquistou o status de cult movie, inclusive no Brasil, onde permaneceu inédito nos cinemas, mas foi exibido à exaustão na TV. Passou no SBT, pela primeira vez em 1986, mesmo ano em que foi lançado em VHS, uma distribuidora de pequeno porte e vida curta. O filme logo se tornou um dos favoiritos das "madrugadas malditas", devido às constantes reprises na TV, inclusive em uma bizarra cópia ao mesmo tempo dublada e legendada!

O diretor espanhol Eugenio Martin nascido em 1925 em Malaga, tinha talento para o horror e foi muito reverenciado por este filme em festivais especializados no gênero. Sua contribuição ao terror, no entanto, é modesta: apenas quatro outros filmes, dos quais Expresso do Horror foi o pioneiro. A seguir fez também o ótimo "Uma Vela para o Diabo", estrelado por Judy Geeson, retornando ao gênero somente na década seguinte com "AquellaCasa en las Afueras" (1980), com Alida Valli e Carmen Maura, e Sobrenatural (1981), com Christina Gaalbó. O eclético cineasta realizou ainda aventuras de faroeste, ação e ficção científica, totalizando perto de trinta filmes ao longo de sua carreira. Mas para os fãs de terror, ele sempre será "o cara que dirigiu Expresso do Horror".

Trailer:


Update da Mensagem:

E aqui está o filme completo, infelizmente sem legendas em português, mas ainda assim completo do início ao fim via you-tube:

3 comentários:

  1. Deste filme eu recordou pouco, porém de "A Gangue dos Dobermans"...sem dúvida o rolo deve ter quebrado.

    ResponderExcluir
  2. Haha! Gangue dos Dobermans era um "Crássico" da ruindade. Filme absurdo que ficava bom depois de algumas vezes. Eu cheguei a encontrar o "Expresso do Horror" disponíel no You-tube, depois adiciono ele aqui.

    ResponderExcluir
  3. Muito bom!
    Vi esse filme na televisão quando eu era criança e revi agora há uns 5 anos em DVD.
    Engraçado: lendo esse post, esse filme me lembrou A Górgona (que, se não me engano, é de 1963). Mas por 2 motivos: o Peter Cushing e o Christopher Lee também apareceram juntos em A Górgona e lá, como aqui, só quem era propriamente vitimado era quem olhava direto nos olhos do monstro.

    ResponderExcluir