quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Canis Mysterium - Resenha do suplemento de aventura lançado para CoC

Por Alex Lucard

Fazia um bom tempo, desde que a Chaosium lançou seu último suplemento de aventura solta (stand-alone). Normalmente (mesmo no início dos anos 90, quando eu comecei a jogar Call of Cthulhu), a editora costumava reunir cenários prontos em coleções ou juntar várias aventuras na forma de uma campanha contida num único livro, como o lançamento Terror From the Skies (que saiu no início desse ano - e que tem resenha aqui no blog). 

Talvez seja por isso que Canis Mysterium trás uma sensação de nostalgia, lembrando de uma época em que eu costumava comprar suplementos baratos de Ravenloft e Shadowrun custando algo em torno de cinco ou dez dólares. O único título impresso que eu tenho de um suplemento nesse estilo é a aventura solo Alone on Halloween, uma re-impressão lançada pela Pagan Publishing. Por sorte, o preço dessa aventura é bem baixo e a qualidade incrivelmente alta, fazendo desse lançamento para Call of Cthulhu um dos melhores de 2013. Para saber porque, basta continuar lendo:

Canis Mysterium se concentra em elementos fundamentais de Call of Cthulhu. Sim, os personagens dos jogadores são de Arkham e alguns deles serão alunos ou professores da Universidade Miskatonic, mas Arkham não é o ponto focal dessa aventura e eu não consigo lembrar de nenhum rolamento de Library Use (pesquisar em biblioteca) durante toda a sessão de jogo. A aventura está mais para uma estória psicológica de detetive do que para uma “descoberta aterrorizante de algo que atormentará a humanidade” ou de "uma luta para deter os planos de um Grande Antigo e seu culto degenerado". Claro, há espaço de sobra para as típicas bestas Lovecraftianas espreitando em alguns lugares da aventura, mas os investigadores não vêem muito disso e a essência da estória envolve um mal cometido pelo próprio homem. De fato, o monstro tenebroso tem um papel bastante diferente nesse cenário e só entra na estória mediante uma ação de bondade de um NPC, algo que por si só é incomum em cenários dessa natureza. Se os investigadores falharem em sua missão (de uma ou de várias maneiras), as consequências serão graves, mas uma vez mais, fora do que julgamos ser o habitual em Cthulhu.

Os personagens dos jogadores são forasteiros atraídos até uma pequena cidade com meros 800 habitantes, chamada Coldwater Falls. Ao que parece o bêbado da cidade foi acometido por uma estranha doença, cujos sintomas remetem a licantropia e a Universidade Miskatonic precisa que alguém descubra o que aconteceu com o sujeito e se as alegações tem algum fundamento científico. Mas espere um instante! Quando eu digo licantropia eu não me refiro a lobisomen, mas a desordem mental em que a pessoa acredita que se transformou em um lobo. O pobre diabo se tornou um demente, reduzido a um louco que anda de quatro, rosna como um animal selvagem e tenta atacar as pessoas para matar e devorá-las. Há inclusive suspeitas de que ele tenha cometido um assassinato. Ao menos um dos jogadores deve assumir o papel de psicólogo ou psiquiatra, um biólogo ou antropólogo também é bem vindo para tentar resolver o caso de um homem acometido do que parece ser uma séria deficiência mental. Soa como uma bela aventura investigativa, certo? E de fato, é um excelente cenário de Call of Cthulhu.

Uma vez em Coldwater Falls, os jogadores terão de descobrir os segredos e fofocas da cidadezinha e uma rede de intrigas que pode ser a fonte da insanidade do sujeito. Os investigadores irão encontrar uma conspiração vingativa e uma revoltante (e potencialmente letal) conspiração envolvendo os habitantes locais. O climax de Canis Mysterium levará os jogadores a enfrentar diferentes oponentes e se eles tiverem sorte apenas alguns deles irão beijar a lona em um desfecho sangrento. Um TPK (Total Party Kill - Morte de todo o Grupo) não é impossível se o grupo não tiver alguém capaz de enfrentar os vários perigos físicos impostos pelo combate sugerido. Então, esteja avisado embora não haja uma grande perda de sanidade, a aventura impõe sérios danos a integridade física dos personagens.

Eu realmente gostei de Canis Mysterium já que ela consegue ser ao mesmo tempo intrigante e diferente, permitindo aos personagens investigar o local e o mistério, sem ser aberta ao ponto de desviá-los de seu objetivo principal. As coisas fluem muito bem, uma vez que as pistas são descobertas e encaixadas corretamente, e embora a estória seja bastante linear ela permite algumas investigações paralelas, sem deixar contudo que o grupo perca o foco. É possível concluir o cenário em uma única sessão de jogo, ou duas se os jogadores quiserem explorar cada lugar e entrevistar cada personagem coadjuvante. 

Uma vez que a aventura requer investigadores com habilidades específicas, Canis Mysterium parece funcionar melhor com personagens construídos pelo Guardião. Não há, entretanto, fichas de personagens prontos no livro, portanto você terá de fazê-los por conta própria. Alteranativamente, essa estória pode ser o início de uma campanha de Call of Cthulhu se narrador e jogadores trabalharem os ganchos fornecidos pela estória e a partir deles embarcarem em possíveis sequências. É possível reaproveitar personagens apresentados nessa estória em outros cenários como antagonistas ou aliados e até construir um cenário envolvendo uma viagem à França em busca de um antigo e perigoso grimório. É ótimo poder contar com tantas opções para expandir essa aventura além do one-shot, com certeza, se o Guardião estiver disposto (e se sentir desafiado a fazê-lo) é viável esticar a estória e transformá-la em algo semelhante a uma mini-campanha. Isso por si só, já faz valer o custo do suplemento.

Eu recomendo muito Canis Mysterium já que ele é bem escrito e muito divertido de ser jogado. Também ajuda o fato dele fugir do lugar comum no que diz respeito ao Mythos. A versão digital do cenário custa apenas seis dólares, e é um ótimo negócio. É possível comprá-lo na página da Chaosium e ler em poucas horas para narrar com o mínimo de preparação. Por mais alguns dólares, você pode comprá-lo na versão impressa. Pessoalmente, eu recomendo a versão digital a não ser que você seja um colecionador ou tenha restrição ao formato digital. 

É curioso ver uma aventura de Call of Cthulhu lançada nesse formato, ao invés de fazer parte de uma antologia. Dez dólares pode ser mais do que você espera gastar para ter uma única aventura, mas nesse caso o custo benefício é positivo. Tenho certeza que os jogadores antigos e iniciantes ficarão satisfeitos com Canis Mysterium a não ser que você seja um mestre/ jogador que não abre mão de bestas tentaculares, horrores escamosos e terrores ancestrais nas suas mesas. 

Do contrário, essa é uma excelente pedida!

Nenhum comentário:

Postar um comentário