quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

A Magia de Chiloé - A Brujeria adaptada para o Universo dos Mitos de Cthulhu


É inevitável ler a respeito da Brujeria - uma sociedade secreta que de fato existiu na Ilha de Chiloé, e não relacionar suas práticas medonhas aos abomináveis cultos presentes na ficção de H.P. Lovecraft, dedicados aos Mitos de Cthulhu.

Sinceramente, a associação é perfeita demais para passar batida.

Então aqui está uma adaptação livre da Brujeria para o universo distorcido e insano do Horror Cósmico Cthulhiano. Eu utilizei a estrutura contida no Livro Básico de Rastro de Cthulhu para me guiar na construção dessa terrível sociedade secreta, mas não vejo porque ela não possa ser utilizada em outras ambientações - Mundo das Trevas, Kult e demais jogos com temática de horror sào ótimas pedidas. 

A estrutura pressupõe que a Brujeria sobreviveu ao julgamento de seus membros em 1880 e que ela continua espreitando das trevas, mais perigosa e letal do que nunca em pleno século XX (e porque nào XXI?). Seus líderes e membros não são "apenas" feiticeiros realizando rituais nas profundezas de cavernas, mas verdadeiros bruxos que conspiram com entidades atrozes a queda da humanidade e a implantação de um novo status quo.

Antes que perguntem, é ÓBVIO que eu aproveitei ideias contidas na Saga Gótico Americano assinada pelo escritor britânico Alan Moore, estrelada pelo seu personagem icônico, o Monstro do Pântano e contando com a presença luxuosa de John Constantine como coadjuvante. Essa série de estórias, publicadas nos anos 1980 apresentava a Brujeria como um cabal de feiticeiros que se aproveitavam de uma crise de proporções cósmicas para destruir o Paraíso invocando um Mal Primordial. Eu adorei o enfoque que o autor deu à Brujeria e a maneira como seus membros eram retratados como feiticeiros absolutamente cruéis e insanos, dispostos a tudo para concretizar seus planos. Como não podia deixar de ser, Moore fez uma bela pesquisa a respeito da Brujeria trazendo para a estória vários detalhes da mitologia da sociedade. 

Por sinal, essa é uma das melhores sagas escritas por Alan Moore, o que não é pouca coisa, considerando que ele é o responsável por Watchmen, Do Inferno e V de Vingança, apenas para citar três de suas obras mais conhecidas. Quem não leu está com sorte, já que o Monstro do Pântano está sendo reeditado aqui no Brasil em edições encadernadas.

Sem mais delongas, vamos adentrar a Caverna da Brujeria - tomem cuidado com o Invunche.

BRUJERIA

Descrição

As origens da Brujeria são envoltas em segredos e mistérios tão antigos que nem mesmo seus membros conhecem todos os detalhes. Supõe-se que a organização, que congrega feiticeiros e bruxos tenha surgido na região conhecida como Quicavi, na Terra do Fogo, atual Chile. Seus membros são exclusivamente homens, descendentes dos povos nativos Mapuche que habitaram originalmente a Ilha de Chiloé, antes mesmo da consolidação do Império Inca. Embora muitos sejam descendentes diretos dessa tribo, a Brujeria não parece se importar com esse requisito para seus membros havendo muitos membros com sangue miscigenado ou espanhol puro nas suas fileiras.

A mitologia da Sociedade, que tem cunho secreto, inclui uma série de crenças nas quais os feiticeiros ou Brujos Chiloté, são apresentados como arautos de grandes transformações. Os Brujos realizam tais mudanças através da observação e manipulação de Profecias que lhes sejam favoráveis. A Brujeria se orgulha de contar com uma série de rituais que lhes permite determinar precisamente as datas de conjunções cósmicas e eventos significativos. Conduzindo seus mais poderosos rituais nessas datas específicas, a Brujeria consegue entre outras coisas perfurar o véu dimensional, invocar entidades de enorme poder e potencializar seus encantamentos.

A Brujeria aspira realizar uma Suprema Invocação de algo chamado "Mal Elemental" (ou Primordial). Nem mesmo os brujos compreendem a natureza exata desse conceito, mas os líderes da Brujeria supõem que esse Mal Ancestral - supostamente um avatar de Azathoth, só pode ser conjurado através de um Ritual específico, descrito em seu Livro Sagrado. Tal ritual, contudo, precisa ser alimentado por uma vasta quantidade de energia que só pode ser reunida através de um acontecimento desencadeando profunda instabilidade. Teoricamente o despertar dos Grandes Antigos deflagraria um surto de insanidade coletiva na humanidade, suficiente para reunir a energia necessária para a invocação.

Ainda segundo as crenças da Brujeria, uma vez libertado, esse Mal daria início a um Processo Transformador que varreria o mundo e alteraria a humanidade para sempre. Pela sua participação nesse acontecimento, os Brujos Chiloté seriam alçados à posição de Reis Feiticeiros da Nova Ordem Mundial que surgiria das ruínas do Mundo Antigo. Nem todos membros da Seita concordam com esse parecer, alguns acreditam que o Ritual simplesmente aniquilaria todas as mentes racionais do planeta. ainda assim, estes acreditam que a conflagração seria benéfica, uma vez que o planeta seria libertado da presença infecta da humanidade. 

As cerimônias do Culto não se dedicam a um único Grande Antigo, ao invés disso, concentra-se em encontrar o momento mais portentoso para venerar diferentes divindades. A Brujeria esteve envolvida intimamente com Tsathogua, Ghatanathoa e Mordiggian, mas nos últimos séculos, sua atenção parece ter se voltado para Hastur e Cthulhu, uma vez que essas entidades se mostraram extremamente ativas e próximas de despertar. Dentre os Deuses Exteriores, a Brujeria busca prantear Yog-Sothoth e Tulzcha em cerimônias que envolvem sacrifícios e a abertura de portais. Nyarlathotep é venerado na forma do Grande Feiticeiro Chiloté, um ancião com incontáveis anos, que detém conhecimento  e que teria escrito o Livro Sagrado da Brujeria. Possivelmente o Caos Rastejante utilizou essa forma como um dos seus inúmeros avatares.

Curiosamente, os membros da Brujeria cultivam uma ancestral inimizade com todos Cultos devotados a Shub-Niggurath, talvez por eles serem um secto exclusivamente masculino e a "Deusa da Fertilidade" estender suas bençãos preferencialmente às mulheres. Outro aspecto divergente diz respeito a castidade dos brujos, que fazem uma espécie de voto ao se filiar ao cabal. Disputas territoriais com sacerdotisas da Deusa marcam a amarga relação entre os dois sectos. 

Organização


A Brujeria se organiza em pequenos grupos de feiticeiros que se reúnem em enclaves rurais afastados. A Seita raramente se estabelece em centros urbanos muito populosos onde suas atividades poderiam chamar a atenção; ao invés disso ela atua em áreas isoladas: florestas ou ilhas, sempre nas proximidades de algum povoado ou vilarejo devidamente controlado por um regime de terror.

Cada cabal da Brujeria conta com no mínimo três brujos que respondem a um líder responsável por uma determinada área geográfica. Dentro de seus limites deve haver uma Caverna ou um complexo subterrâneo onde a congregação se reúne e onde os rituais são realizados pelo menos uma vez por mês. É sabido que grupos maiores podem contar com até 20 ou mesmo 30 membros, sendo a maioria destes iniciados sob a tutela de Bruxos mais experientes. Esse tipo de configuração é consideravelmente mais rara, mas pode suceder quando a Brujeria inicia os preparativos para algum ritual que demandará a participação de um maior número de membros. Cada caverna é guardada por apenas um Invunche - um Guardião místico extremamente poderoso que zela pelo lugar de culto e repele os inimigos. Além dos membros regulares, a seita pode contar com simpatizantes e serviçais que realizam missões e tarefas específicas. Mulheres raramente são aceitas, exceto aquelas que cuidam do Invunche e as que atuam como mensageiras aladas.

A hierarquia mais elevada da Brujeria contempla os chamados Reis Feiticeiros, a casta mais alta dos Brujos Chiloté, responsáveis por controlar regiões inteiras. Esses indivíduos são igualmente temidos e respeitados, exercendo uma poderosa influência não apenas sobre outros membros, mas sobre comunidades na esfera social e política. Os Reis Feiticeiros costumam se encontrar de tempos em tempos para discutir a realização de Rituais importantes ou trocar informações a respeito de Profecias. Embora não haja um Rei Feiticeiro mais importante, é inegável que o detentor do título em Chiloé tradicionalmente goza de maior influência, tendendo a ser o mais poderoso diante dos seus pares.

Distribuição

Historicamente, a Brujeria se espalha por toda a porção meridional da América do Sul, sendo o seu berço de poder a região correspondente a Tierra del Fuego. A Ilha de Chiloé no Chile é de suma importância por ser lá o local onde ocorrem as reuniões dos Reis Feiticeiros. Estes viajam de tempos em tempos para se encontrar na Caverna de Chiloé, reconhecidamente a maior e mais poderosa de todas.

Os Reis Feiticeiros governam extensas áreas de influência que se distribuem por vários países da América do Sul. Eles estão presentes no oeste da Argentina, na Bolívia, Peru, Equador e principalmente no Chile. No passado haviam ramificações no Paraguai e na Colômbia, mas estas foram cortadas. A seita jamais consegui se estabelecer na América Portuguesa - leia-se Brasil, em parte pela presença de ordens religiosas zelosas e pela barreira da identidade cultural. A presença de cultos devotados a Yig e Shub-Niggurath no território brasileiro também coibiram o estabelecimento da Brujeria. Há boatos de que ao menos um secto da Brujeria estaria presente nas Guianas, mas estes em face de sua distância e isolamento realizariam seus próprios rituais.

Ganchos

A Brujeria talvez seja o mais importante culto operando nessa porção da América do Sul. Uma vez que a seita não venera uma entidade em especial, voltando-se de tempos em tempos para diferentes Grandes Antigos em sua busca por poder, é razoável supor que os investigadores possam ter dificuldade em identificar o envolvimento da Brujeria em casos distintos.

A Brujeria costuma agir nas sombras, ela raramente atua nas capitais ou grandes cidades, ainda que mantenha informantes e observadores que podem seguir os passos dos investigadores. Mantendo seu foco em povoados e vilarejos longínquos, muitas vezes sem estradas ou facilidades do mundo moderno, a Brujeria busca atrair seus inimigos para essas áreas afastadas onde estrangeiros podem simplesmente desaparecer sem deixar vestígios. É nesses domínios que a Brujeria se mostra mais perigosa, controlando a população e as autoridades locais através de táticas de intimidação. Um investigador pode se surpreender ao descobrir como a Brujeria age às claras nesses arrebaldes do continente.   

Ações

Cientes do poder e influência que concentram, os Brujos Chiloté não estão dispostos a permitir a intromissão de investigadores nos seus domínios. Enquanto em outros lugares do mundo, cultistas tendem a agir discretamente, no caso específico da Brujeria, suas ações podem ser bastante diretas. De uma maneira até desconcertante.

Atentados visando intimidar ou assassinar seus alvos são constantes, bem como a utilização de feitiçaria e rituais para dissuadir estrangeiros e fazer com que eles deixem seus domínios. Sajaduras, um tipo de feitiço empregado pela Brujeria se mostra especialmente eficaz, abrindo feridas e pústulas no alvo dos bruxos - sobretudo no rosto. Em comunidades supersticiosas, uma pessoa apresentando sajaduras será imediatamente reconhecida como um inimigo da Brujeria, alguém a ser evitado e jamais ajudado. Dependendo das circunstâncias um indivíduo marcado como inimigo da Brujeria será expulso ou até agredido.

Outro método de intimidação dos brujos envolve lançar maldições e magias debilitantes. Dominando uma vasta gama de feitiços dessa natureza, os Brujos conseguem criar contratempos para os mais experientes investigadores.

Se tudo mais falhar, o recurso final da seita contra seus oponentes é enviar o Invunche para exterminá-los. Os feiticeiros utilizam o terrível poder do Guardião da Caverna somente em casos específicos, uma vez que o papel principal da criatura é proteger o Santuário do Culto. A aparição do Invunche, no entanto pode ser a ferramenta necessária para convencer investigadores de uma vez por todas dos perigos de cruzar o caminho da Brujeria.

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