segunda-feira, 25 de maio de 2015

The Revival - Resenha do Livro de Stephen King, uma homenagem eletrizante ao Mythos

Por L.E. Peret

Em 2014, Stephen King lançou mais um romance que tem tudo para se tornar um clássico: “Revival”. King afirmou, em entrevistas, que tinha se inspirado em “O Grande Deus Pã” de Arthur Machen e em “Frankenstein” de Mary Shelley. Porém, uma influência que salta aos olhos, principalmente no final, é baseada no Mythos – em especial no clima narrativo de H. P. Lovecraft e em elementos de Robert Bloch. Vale lembrar que “O Grande Deus Pã” de Machen também foi uma das fontes de inspiração para Lovecraft.

Uma leitura que prende a atenção, “Revival” trata de perda da fé, drogas, eletricidade, morte, cura e rock’n roll. Tal como acontece em tantas obras de Lovecraft, é um texto autobiográfico, narrando em primeira pessoa a história de Jaime Morton, um homem comum, residente no Maine, estado norte-americano que ambienta a maior parte dos romances de King. O Maine também faz parte da Nova Inglaterra, mesma região onde ficam as cidades lovecraftianas de Arkham, Dunwich e Innsmouth.

A história acompanha a vida de Morton, desde os seis anos, quando ele tem seu primeiro encontro com o que ele chama de “Quinto Personagem”, o pastor Charles Jacobs. Numa ópera, o “quinto personagem” é o elemento que, mesmo não tendo um papel entre os protagonistas, carrega segredos dos mesmos e é o principal responsável pela movimentação da trama. E Charles Jacobs se presta a esse papel, ao se envolver com mistérios e segredos não apenas dos personagens, mas também da própria estrutura do universo. 

Jacobs é um pastor jovem, casado e com um filho pequeno. As famílias cristãs da pequena cidade rapidamente o acolhem com sua família, exemplos que eles são de uma relação estável e abençoada. A única coisa que ás vezes causa alguma estranheza é o entusiasmo quase obsessivo de Jacobs pela eletricidade e suas aplicações práticas. Ele é como um Tesla dos anos 70, tentando mostrar ao mundo os mistérios do que chama de “Eletricidade Secreta” e que, segundo ele, pode, mais do que acionar aparelhos e trazer conforto e comunicação para as pessoas, revelar os propósitos secretos de Deus.

Pouco tempo depois, as coisas mudam tragicamente e Jacobs desaparece. A história acompanha a vida de Morton e seus futuros encontros com Jacobs, em diferentes profissões e situações, mas sempre usando a “eletricidade secreta” de alguma forma – ora como charlatão e apresentador em um parque de diversões, ora como líder religioso novamente, às vezes atribuindo o curioso poder curativo da Eletricidade Secreta ao Deus cristão e, às vezes... a alguma outra coisa. Seja qual for a sua fonte, a estranha energia tem efeitos reais – e efeitos colaterais potencialmente perigosos.

Como acontece em outras obras de King, “Revival” traz elementos de política e religião, muita história e cultura norte-americana, usando um gancho sobrenatural para revelar o que há de melhor e pior nas pessoas comuns. O próprio nome do livro se refere aos encontros religiosos cristãos chamados “Reavivamentos”, realizados em grandes tendas, com muita música e evocações de “cura pelo espírito”, com o intuito de fortalecer a fé e coletar doações para fundos de caridade de instituições religiosas. É num desses “shows da fé” que Morton vai reencontrar Jacobs, em um dos momentos-chave da trama.

Em alguns momentos, a descrição muito detalhista da vida de Morton pode parecer arrastada, mas são pequenos detalhes que compõem um quadro maior, relacionado tanto ao desenvolvimento em paralelo dos fatos que não vemos imediatamente, quanto ao desfecho da trama. Algumas críticas, já comuns a outros romances de King, sugerem que o clímax é muito rápido e deixa um pouco a desejar, em comparação a tudo que aconteceu ao longo do livro; no caso específico de “Revival”, porém, o principal evento sobrenatural ainda deixa terríveis consequências após a sua passagem, além de enviar uma mensagem distópica e apocalíptica à Humanidade, no mais autêntico clima lovecraftiano. O final da obra bem que poderia ser resumido com uma homenagem a Dante: Abandonai toda a esperança, ó vós que entrais!



4 comentários:

  1. No atual momento eu estou a ler o "Doutor Sono", em que Stephen King o universo de "O Iluminado". Esse "Revival" está na fila.

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  2. Eu li e amei o livro, o clima de nostalgia e tudo o mais. Mas sinceramente não entendi quem é essa mãe.... Pode me ajudar? kkk

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    1. https://stephen-king.fandom.com/pt-br/wiki/M%C3%A3e_do_Nulo

      Espero que este artigo consiga te responder. :)

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  3. Quando comecei a ler realmente não me liguei, muito com o estilo de lovecraft fora o Vermis Mysteriis ja estar indicando alguma coisa, mas do meio pro final e basicamente este estilo com aquela energia abrindo portal pra uma outra dimensão com criaturas ancestrais gigantescas e muito legal, por isso eu adoro Stephen King você consegue reconhecer em seus livros a sua influencia literária, os livros clássicos que eu tanto gosto de ler, sem esquecer também que tem referencias a Frankenstein de Mary Shelley.

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