domingo, 6 de dezembro de 2015

Mares Misteriosos - The Bloop - Um estranho rugido vindo das Profundezas do Pacífico


No verão de 1997, o escritório da Administração Americana Oceânica e Atmosférica foi sacudido por um rugido sem paralelo. O som vinha das profundezas marinhas do Pacífico Sul, um som que, tudo indicava, havia sido produzido por uma animal maior do que tudo que se poderia imaginar. Assim teve início um mistério que até hoje permanece sem solução, o Incidente Bloop.

O Bloop pode até ser apenas um entre as dezenas de sons inexplicáveis captados pelo NOAA, o Projeto de Monitoramento Acústico que há mais de vinte anos inspeciona os ruídos vindos das profundezas do oceano, mas ele é de longe o mais intrigante. O objetivo do NOAA é verificar a ocorrência de abalos sísmicos, surgimento de vulcões submarinos e de outras ocorrências sismológicas. Ouvir os sons das profundezas é uma forma de prevenção contra colossais desastres, já que um abalo submarino tem o potencial de ocasionar um violento tsunami capaz de varrer as costas de vários continentes. Por isso, qualquer som extraordinário atrai a atenção dos pesquisadores.

Embora a maioria dos sons captados tenham explicações relativamente óbvias e perfeitamente aceitáveis, outros são decididamente bizarros. Para muitos pesquisadores a natureza de certos ruídos advindos dos abismos submarinos constituem um dos grandes enigmas sobre o nosso planeta, perguntas que não estão nem um pouco próximas de serem respondidas.

Antes de falar especificamente sobre o mais conhecido ruído submarino já captado, que tal falar sobre como funcionam as Estações de Monitoramento?


De volta aos anos tumultuados da Guerra Fria, a Marinha Norte-Americana criou um sistema de monitoramento através de bóias com microfones dispostos nos maiores oceanos do planeta. O propósito era simples, os microfones hiper-sensíveis conseguiam ouvir os submarinos soviéticos. O princípio de funcionamento desse monitoramento, no entanto era bastante engenhoso: ele se valia de um fenômeno conhecido como canal de som profundo, uma camada do oceano onde o som se propaga em velocidade reduzida e onde ondas sonoras podem ser capturadas pelo equipamento.

As bóias do Sistema de Vigilância de Som, ou SOSUS, conseguiam detectar sons relativamente fracos produzidos à milhares de milhas de distância. Seria de grande ajuda para a Marinha Americana determinar o posicionamento de submarinos russos em caso de guerra. A importância desse projeto era tamanha que o SOSUS se tornou vital para o Departamento de Defesa. Na década de 1970-80, o monitoramento era capaz de determinar a localização dos principais submarinos nucleares soviéticos (aqueles que carregavam mísseis balísticos de médio e longo alcance). Na iminência de um conflito nuclear, havia uma força tarefa da marinha, preparada para atacar esses submarinos com cargas de profundidade evitando assim que eles disparassem seus artefatos nas cidades americanas.

Com o fim da Guera Fria por volta de 1990, o custo exorbitante do projeto fez com que ele fosse aposentado. As bóias, no entanto, continuaram operacionais e continuaram a ouvir os sons vindos das profundezas. Elas foram emprestadas para centros de estudo oceanográfico ao redor do mundo e outras instituições civis. Há mais de vinte anos, o NOAA e a Estação Hidrofônica do Pacífico realizam esse trabalho.


Na maior parte do tempo, é fácil identificar a natureza da maioria dos sons captados. O canto das baleias por exemplo, produz sons de baixa frequência, assim como atividade vulcânica e o movimento de icebergs, além é claro, da atividade humana nos mares - como o deslocamento de imensos navios cargueiros. Todas essas atividades geram sons bastante distintos que para os ouvidos treinados dos técnicos podem ser identificados. Mas de vez em quando, surge algo inesperado. O NOAA oficialmente possui seis incidentes que desafiam qualquer explicação, são ruídos vindos das profundezas cuja origem permanece desconhecida.

O Incidente Upsweep por exemplo, foi gravado em agosto de 1991 e ele ainda pode ser ouvido todo ano, especialmente entre a primavera e outono. Por alguma razão, o estrondo tem se tornado mais fraco e acredita-se que ele irá se dissipar por inteiro. A origem do som se localiza em algum lugar do Pacífico Sul, próximo à Antártida, localizado 2500 milhas a oeste da ponta da América do Sul. Inicialmente acreditava-se que o som era criado por baleias, mas em 1996, concluiu-se que o tom não era biológico. O fenômeno parecia relacionado a atividade vulcânica na região, talvez o resultado de água salgada e gás vulcânico interagindo para gerar um padrão de ressonância. A descoberta de montes vulcânicos, serviu como explicação para o caso.

O ruído batizado como Slow Down, foi gravado em maio de 1997. Assim como Upsweep, o som pode ser ouvido regularmente. O som teve origem a 2000 milhas ao oeste do Peru, mas seu ponto de exato parece localizado mais ao sul.  Para os especialistas, ele seria resultado do ruído de um imenso atrito, possivelmente resultante do choque de imensos icebergs raspando uns nos outros.

Finalmente temos o Incidente Whistle, registrado também em 1997. Ele foi gravado 1700 milhas ao oeste da Costa Rica, mas sua origem precisa é desconhecida. O som era bastante alto, a princípio condizente com um abalo sísmico, mas uma análise criteriosa levantou uma série de dúvidas sobre o que seria o estrondo.

Mas nenhum desses sons chega aos pés do mais famoso ruído das profundezas registrado até hoje: o Bloop.


Ele também foi gravado em 1997, ano de enorme atividade sonora nas profundezas. A origem foi um ponto 1500 milhas ao oeste da Costa do Chile. Ele foi poderoso o bastante para ser captado por sensores e bóias posicionadas a mais de 3000 milhas de distância, o que o torna o ruído submarino mais poderoso já captado pelo homem. Para se ter uma idéia, de onde ele pôde ser ouvido, são mais de 4.800 quilômetros, distância maior do que a que separa as cidades de Porto Alegre e Manaus nos pontos extremos do Brasil. 

O rugido do Bloop teve duração de quase um minuto e nunca mais foi repetido. Não existe possibilidade dele ter sido causado pelo homem, nada conhecido pela humanidade, nem mesmo as mais poderosas bombas atômicas seriam capazes de igualar um estrondo tão grandioso. A explosão de um vulcão de dimensões consideráveis, como o Krakatoa, talvez pudesse rivalizar com esse barulho, contudo não houve nenhuma erupção dessa natureza na região, algo que dificilmente passaria desapercebido. 

É importante ressaltar que existe uma grande diferença entre coisas que são absolutamente inexplicáveis e outras que permanecem sem uma explicação razoável. Enquanto a segunda leva as pessoas a considerar hipóteses incomuns em uma tentativa de compreender a situação, a primeira simplesmente não oferece possibilidades até um ponto em que não resta nada a não ser estarrecimento diante do desconhecido. Esse é o caso do Bloop! Não há nada que poderia ocasioná-lo, ao menos, nada que tenhamos conhecimento. 

Mas isso não é tudo! Para tornar a estória ainda mais sensacional, uma análise do som do Incidente Bloop realizada por vários especialistas apurou que a variação da frequência é perfeitamente condizente com ruídos de origem biológica, ou seja, um animal poderia ter sido responsável por ele. 

O tamanho comparativo entre a Torre Eiffel, as dimensões estimadas do animal causador do Bloop (em azul), uma Baleia Azul e um ônibus escolar. 
Mas se o Bloop realmente é fruto do rugido de uma criatura viva, que animal seria esse? Poderia um leviatã dessas proporções realmente existir em algum lugar de nosso planeta sem que saibamos?

No mundo natural, a Baleia Azul pode atingir a maior distância com sua frequência sonora, mas qualquer comparação com a intensidade do Bloop é absurda. É quase como comparar o zumbido de um beija-flor com o rugido da turbina de um Boing 747. Seria necessária uma baleia de tamanho gigantesco, com pelo menos 700 pés (215 metros), para produzir tal som. Algo que nem mesmo o Oceano Pacífico poderia manter oculto por muito tempo.

As análises do ruído deixam poucas opções para enquadrar um animal conhecido como o responsável pelo Bloop. Invariavelmente isso leva os teóricos a ponderar sobre a existência de algo desconhecido habitando o abismo oceânico. Algo que a humanidade ainda não encontrou...  

Na época em que o Incidente foi registrado pelas estações de monitoramento, houve todo o tipo de teoria sobre a origem do ruído. É claro, o fato do ponto de origem se localizar no Pacífico Sul, próximo da Costa do Chile fez com que muitos apontassem para a localização da fictícia ilha submersa de R'Lyeh, o Lar do Grande Cthulhu.


O escritor americano H.P. Lovecraft escreveu o conto "The Call of Cthulhu" em 1928 e determinou que a criatura do título, Cthulhu, era um Habitante das Estrelas, preso em nosso planeta eras atrás. Cthulhu teria habitado exatamente essa região do planeta bem antes do surgimento do homem. Lá construíu seu centro de poder, uma ilha dantesca com muralhas de pedra ciclópicas e templos profanos erguidos por criaturas que o acompanharam em sua longa jornada. Afetado por um desastre cósmico, ele e seus seguidores acabaram presos em R'Lyeh que submergiu sob as ondas, indo parar nas profundezas. Mas o Grande Cthulhu não está morto, e ao longo das Eras, permanece sonhando, acessando a mente de seres humanos, preparando-os para seu despertar e obliteração.

Os fãs de Lovecraft comemoraram o Incidente Bloop e chegaram a fazer uma campanha na internet para que o NOOA o chamasse oficialmente de Incidente Cthulhu. Os organizadores da campanha alardeavam a coincidência sobre a localização de R'Lyeh (47 graus, 9 Sul, 126 graus, 46 Oeste) e o provável ponto de origem do Bloop, separados por apenas 1750 quilômetros, algo que, em se tratando de Oceano Pacífico, constitui uma distância bastante curta.


Honestamente, com tão pouco que se sabe a respeito da origem do Bloop, a explicação que ele possa ter sido causado por um espirro ou quem sabe pelo bocejo do Grande Cthulhu é tão boa quanto qualquer outra teoria.

Para quem está curioso em saber com o que se parece o som do Bloop, veja esse video abaixo. Não parece grande coisa na frequência normal, mas avancem para 3:40 para ouvir a versão em velocidade 16 vezes mais rápida. Agora imaginem esse som de baixo da água ampliado milhões de vezes.

Pois é... num dia assim, eu não ousaria molhar os pés no mar.

Um comentário:

  1. interressante esse bloop. acho q tem um outro post aqui no mundo tentacular sobre isso

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