segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

Violência Rubra - O Enigma de uma Cidade Mergulhada na Loucura


A história relatada abaixo ocorreu em um verão quente, no início da década de 1950, em uma pequena cidade na França chamada Pont-Saint-Esprit, localizada no sudeste do país. A cidade sempre foi muito tranquila, orgulhosa de seu passado e de sua história que podia ser traçada até o início do século XVIII. Um lugar bonito, cercado por bosques, planícies e riachos idílicos, com uma população conhecida por ser amigável e receptiva a viajantes. 

Atualmente, entretanto, o lugar é considerado infame por todos que ouviram falar dos acontecimentos ocorridos em 15 de agosto de 1951. A fama de Pont-Saint-Esprit se espalhou de tal forma que o nome da pequena cidade se tornou sinônimo de medo, apreensão e loucura. 

Isso porque, quando o horror teve início e o inferno abriu as suas portas em Pont-Saint-Esprit, muitos habitantes da cidade se transformaram em maníacos homicidas.

A história oficial afirma que os moradores foram vítimas de um raro tipo de fungo chamado ergot, que costuma afetar o centeio armazenado de maneira errada. Os efeitos do ergot nas pessoas que consomem uma determinada quantidade dele são impressionantes: ele provoca gráficas e aterrorizantes alucinações que são impossíveis de serem ignoradas ou dissociadas da realidade. A pessoa literalmente vê, escuta e experimenta sensações que não existem. Além disso, o efeito do Claviceps purpurea (um dos compostos do fungo) ativa áreas no cérebro responsáveis pela criatividade e imaginação, o que estimula um quadro alucinatório muito semelhante ao criado pelo consumo de LSD.


Linda Godfrey, especialista no estudo de fungos sugere que o ergot pode ser o responsável por várias demonstrações de fúria bestial. Tais casos podem estar ligados a fúria bestial, uma condição na qual o indivíduo perde seus sentidos e é incapaz de agir de maneira racional, recorrendo apenas ao seus instintos primitivos. Segundo Godfrey, o consumo de ergot pode ser o causador de incontáveis relatos de possessão demoníaca e licantropia em sociedades medievais em que o centeio era comumente consumido. O comportamento demente desencadeado pelo ergot se manifesta com violência, falta de controle emocional, um quadro de confusão mental dissociativa e alucinações. Algo que realmente poderia ser interpretado por pessoas supersticiosas como possessão diabólica ou intromissão de entidades diabólicas.

O dia começou como qualquer outro para os moradores da pitoresca cidadezinha francesa. Perto do fim de tarde, entretanto, o lugar era palco de um pesadelo indescritível. A infecção se espalhou ao longo do dia literalmente enlouquecendo parte da população. Aqueles que não foram afetados se trancaram em suas casas, colocando barricadas das portas e janelas para se proteger daqueles que até então eram seus amigos, vizinhos e parentes.


As pessoas pareciam ter enlouquecido. Atacavam umas às outras violentamente, arranhavam, cuspiam e mordiam. Batiam com a própria cabeça nas paredes até desmaiarem. Se cortavam com facas e bebiam o próprio sangue. Mulheres corriam nuas pelas ruas gritando palavrões. Animais domésticos eram feitos em pedaços e devorados crus. A loucura era tamanha que algumas testemunhas relataram que as vítimas estavam se transformando em bestas selvagens. Falaram que algumas apresentavam presas e pelos corporais, pareciam mais lobos do que pessoas. Casas foram invadidas e incendiadas, a igreja local foi destruída por um bando que fez em pedaços os bancos, o altar e as imagens sacras.

Eram centenas de pessoas furiosas. Segundo relatos cerca de 260 indivíduos (de uma população de 700) foram afetadas simultâneamente no auge da insanidade coletiva. Por volta da madrugada, as ruas de Pont-Saint-Esprit eram uma verdadeira praça de guerra com automóveis virados, praças depredadas e feridos espalhados aqui e ali. Focos de incêndio lançavam uma fumaça escura no céu, mas o pior era o ruído da algazarra, de gritos, gargalhadas e choro combinados. O ruído da loucura incontrolável que dominava as pessoas.

Pela manhã, o turbilhão escarlate começou a diminuir sua intensidade. Após o frenesi de morte e destruição da madrugada, as pessoas afetadas sentiam um enorme esgotamento e simplesmente adormeciam onde caíam. Alguns nus, com restos esfarrapados de roupas, sangue nas mãos e na boca, dormiam tranquilamente. Coube aos sobreviventes ainda confusos com o que havia ocorrido chamar as autoridades e pedir ajuda.

Segundo os números oficiais, sete pessoas morreram, mas acredita-se que o número tenha sido muito maior. As autoridades teriam mantido a contagem de vítimas baixa em parte para não assustar a população das cidades vizinhas, mas também pelo fato de que não se sabia a quem imputar as mortes e se os autores eram realmente culpados pelos seus atos. Cadáveres horrivelmente mutilados foram recolhidos das ruas e de casas invadidas pela horda furiosa. Alguns apresentavam marcas de mordidas, de surras brutais, violência sexual e sadismo. Dizem que o número de mortos no evento também conhecido como Le Pain Maldit ("Pão Maldito"), passou de trinta, mas não há como saber ao certo. 

Ainda pior do que as mortes em si, foram os danos psicológicos deixados nos sobreviventes, tanto nas vítimas quanto nos causadores da tragédia. Mais de quatro dúzias de pessoas estavam tão traumatizadas que foram conduzidas a asilos locais, para seu próprio bem e para o bem dos demais. As cortes de justiça se perguntavam como deveriam proceder, mas no final decidiram que o incidente seria tratado como uma fatalidade.


Mas teria sido o Erhot o causador de toda essa devastação? 

É nesse ponto que as coisas se tornam mais complicadas e controversas. Uma das pessoas que cavaram profundamente no mistério que irrompeu em Pont-Saint-Esprit em 1951 é H.P. Albarelli Jr. Ele é autor de um livro chamado "A Terrible Mistake"  (Um Terrível Engano). Esse enorme livro em formato investigativo, com mais de 800 páginas, reúne suas conclusões após anos de investigações a respeito do incidente. Segundo Albarelli, o horror da cidade está relacionado a morte de um homem chamado Frank Olson, um brilhante químico que, no início de 1950, trabalhava para a Divisão de Operações Secretas do Exército dos Estados Unidos.    

Olson era o chefe do Centro de Pesquisas de tecnologia de alteração mental, mas embora ocupasse um posto de prestígio, seu trabalho não estava destinado a durar. Nem sua vida. Olson morreu em 28 de novembro de 1953, como resultado de uma estranha queda do décimo andar do Hotel Statler, em Nova York. Muitos teóricos de conspirações acreditam que Olson - que já havia escrito repetidas cartas nas quais se dizia arrependido de seus trabalhos em programas controversos do governo, foi obrigado a se suicidar ou jogado da janela por pessoas temendo que ele revelasse no que havia trabalhado. Não é novidade para ninguém que a Divisão de Operações Secretas trabalhou com as possibilidades do emprego de drogas psicodélicas, misturas químicas e várias outras substâncias de manipulação mental, em nome da segurança nacional. Soros da verdade, drogas indutoras comportamentais, anuladores de sono, componentes delirantes, drogas viciantes, tudo era testado pela divisão sob o comando de Olson, os chamados "Químicos Doidos do Exército" (The Army Mad Chemists).  

Acredita-se que a Divisão tenha ganhado grande importância durante a Guerra da Coréia quando várias drogas experimentais envolvendo mercúrio, micotoxinas e nitrogênio tricloridrido, começaram a ser testadas pelas Forças Armadas. Um dos projetos mais ambiciosos era a criação de uma substância capaz de "lavar a mente" do inimigo e deixá-lo em um estado de torpor no qual ele não desejava mais lutar. Documentos ultra-secretos liberados em 2016 relatam que essas drogas foram largamente testadas durante o conflito na Coréia. Embora não seja corroborado, acredita-se que a população civil tenha sido utilizada nesses experimentos, disfarçados como vacinação.


O que poucas pessoas sabem é que Frank Olson trabalhou com a Divisão da Inteligência da França. Ele teria viajado para a França a serviço entre 1950 e 1951, exatamente um ano antes e logo depois do incidente ocorrido em Pont-Saint-Esprit como Albarelli conta em seu livro. Os franceses estavam interessados assim como os americanos (e britânicos e Russos, é claro!) em métodos de indução mental através de componentes químicos. Um dos lemas da Divisão de Olson era justamente "controle mentes, vença a guerra".

Em vista disso, não é de se estranhar que o nome de Olson seja citado em documentos secretos emitidos pela CIA a respeito dos eventos em Pont-Saint-Esprit. Um dos documentos, que veio a tona após o Ato Norte-Americano de Liberdade de Informações, possui o seguinte título: 

"Referência: Pont-Saint-Esprit e arquivos de F. Olson . Operações Especiais/ Operação Francesa. Arquivos de Inteligência a serem analisados".

O mais impressionante é que o documento dentro desse arquivo desapareceu. Tudo o que restou foi uma anotação na borda da pasta onde se lê: "Apenas para pessoas autorizadas, manter enterrado".

Tudo leva a crer que o documento tenha sido destruído, mas a insinuação do conteúdo da pasta é claro como o dia. Ele deveria ser "enterrado", ou seja, mantido em segredo, destruído ou esquecido à qualquer custo. É possível que Olson estivesse apenas estudando os resultados de uma contaminação por ergot em uma pequena cidade do interior da França, mas para outros, o Governo Americano e Francês estariam usando a população de Pont-Saint-Esprit como cobaias de um experimento de manipulação mental. Um experimento obscuro parte do Projeto MKNAOMI que visava o emprego de substâncias químicas em tempo de guerra. Talvez esse experimento tenha tido resultados inesperados e sua repercussão poderia trazer resultados negativos. Por essa razão, deveria desaparecer.


É claro, a primeira vista, tudo isso parece incrivelmente exagerado e absurdo, mas as teorias a respeito não são completamente infundadas. Para aqueles que não acreditam em tal coisa, é preciso recordar que o governo dos Estados Unidos nos anos 1930 se valeu de vacinação compulsória para realização de testes de substâncias experimentais dentro de seu próprio território nacional. Inoculando virus em cidadãos que sequer desconfiavam do que estavam recebendo. Nos anos 1950, a França poderia estar junto com os americanos se valendo do mesmo expediente. Ademais, o livro de Albarelli afirma que o governo da França teria patrocinado experimentos semelhantes em sua colônia na Argélia, até o início da década de 1960. O propósito desses experimentos seria controle de população e sabotagem, visando fomentar revoltas e confusão no inimigo em tempos de guerra.

É provável que com o desaparecimento dos documentos contidos no arquivo jamais saibamos ao certo o que aconteceu em Pont-Saint-Esprit. Talvez tenha sido apenas uma contaminação casual por fungos, mas... e se não foi?

terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

Cinema Tentacular: A Autópsia de Jane Doe (The Autopsy of Jane Doe, 2016)


Ela não vai receber nenhum prêmio pela sua interpretação como o cadáver não identificado em "A Autópsia de Jane Doe", mas a jovem atriz Olwen Catherine Kelly - que permanece nua e imóvel em uma mesa de metal durante toda duração do filme - vai ser lembrada por todos que assistirem esse filme. No início ela parece mais um adereço de cena do que um personagem, mas aos poucos o corpo pálido e gelado de Kelly se mostra o centro de um terrível mistério.

O roteiro de Autópsia de Jane Doe esteve rolando por Hollywood desde 2013 em busca de algum produtor que o aceitasse na íntegra. Uma das condições dos roteiristas era que o filme fosse produzido sem mudanças em seu texto, NENHUMA!

Talvez esse grau de comprometimento tenha gerado grandes dificuldades, afinal de contas, "Jane Doe" não é um filme fácil d elevar para a tela. Ele se passa inteiramente em um único ambiente, com uma personagem completamente nua e no decorrer de uma sangrenta (e detalhada) autópsia. Ainda assim, ele atraiu os ótimos atores Emile Hirsch e Brian Cox que assinaram o contrato para estrelar o filme sem pestanejar. É provável que eles tenham sido influenciados pela escolha do diretor, o norueguês Andre Ovredal de Troll Hunter. Em 2010, esse pequeno filme que marcou a estréia do diretor se tornou um inesperado sucesso de crítica e público ao redor do mundo. [Leia AQUI a nossa resenha de Troll Hunter.]


Ovredal aliás, mostra nesse seu primeiro trabalho fora da Noruega que o sucesso de Troll Hunter não foi sorte de principiante. Ele consegue criar um filme instigante e aterrorizante na medida certa. Como bom diretor do gênero, ele sabe bem que o coração de todo filme de horror é a atmosfera, aquela sensação angustiante na qual os espectadores vão sendo envolvidos e da qual não conseguem desgrudar os olhos. A personagem título não precisa mover um único músculo para causar sustos de verdade e criar uma sensação de claustrofobia ao longo de seus 99 minutos.

A história bem amarrada começa quando a polícia se depara com uma sangrenta cena de crime nos subúrbios de Grantham, Virgínia. Quatro pessoas foram assassinadas em uma casa, e cada um deles parece ter sido morto enquanto tentava escapar. As coisas ficam mais estranhas quando os detetives descobrem o corpo de uma mulher meio enterrada no porão. Ela não aparenta ter sofrido nenhuma violência e ninguém sabe qual a sua ligação com a chacina.  

Desesperado por respostas que possam ajudar a elucidar o crime, o xerife local envia o cadáver para o legista mais conceituado da cidade, que comanda uma funerária que é o negócio da família há gerações. O delegado quer que o legista Tommy Tilden (Brian Cox) e seu filho Austin (Emile Hirsh) trabalhem no corpo, ou seja o abram e descubram alguma pista que ajude no caso. Há muitos questionamentos a respeito do cadáver, cuja identidade permanece desconhecida. Quem é ela e por que estava enterrada no porção? Qual foi a causa da sua morte já que ela não aparenta ter qualquer ferimento? Por que a sua língua foi cortada? O que fez seu sangue não ter coagulado? O que são as marcas em seus órgãos internos? Qual a ligação dela com os outros mortos?


Todas essas perguntas e muitas outras vão sendo respondidas ao longo de uma noite escura e com uma terrível tempestade ser preparando para despencar.

Aproveitando o ambiente sinistro em que se passa a história, o diretor explora cada centímetro da Casa Funerária da família Tilden em todo seu potencial macabro. Tommy e Austin, pai e filho, trabalham em um ambiente propício para a ocorrência de coisas bizarras, mas habituados ao ambiente sinistro eles demoram a se convencer do pesadelo no qual estão embarcando. Entre indícios preocupantes que incluem ratos mortos, quedas de energia e uma música antiga que fica se repetindo no rádio, as coisas avançam de mal a pior, antes mesmo deles fazerem a primeira incisão.

Um aviso honesto: "Jane Doe" não economiza nas cenas de autópsia com direito a muito sangue e tripas. É um tal de bisturi cortando, serras rachando e instrumentos perfurando que você se sente num episódio hardcore de Plantão Médio. E essas cenas com procedimento médicos mostrados em detalhes tornam o filme ainda mais enervante por serem extremamente realistas. 

A medida que os legistas começam a descobrir as pistas doentias escondidas no corpo, uma mais bizarra que a anterior, um panorama perturbador começa a ganhar forma e nenhuma explicação parece se encaixar, exceto a que aponta para uma força sobrenatural.


A dupla de protagonistas compartilham de uma química invejável no papel de pai e filho e conseguem vender perfeitamente a ideia de que são parentes. A hesitação de Austin em aceitar assumir os negócios da família e as esperanças de Tommy em passar a tocha adiante fornecem um pano de fundo para que eles desenvolvam suas personalidades. Os atores conseguem uma sintonia invejável e você se importa com eles e torce para que escapem da situação em que se meteram.

O mistério que cerca a personagem título de "Autópsia de Jane Doe" é tão intrigante que ficamos nos questionando a respeito dela mesmo após o fim do filme. A história absurda sugerida por um dos personagens para explicar o que está acontecendo jamais é corroborada e fica aquela sensação de que pode haver mais coisas ocultas. Seria a garota apenas mais uma vilã macabra de filme de horror ou uma trágica figura que se tornou maligna em face das terríveis injustiças pelas quais passou? O filme deixa pontas soltas e não vou me surpreender se ele tiver uma sequência que explore mais a fundo a identidade de Jane Doe.

Existem outros elementos a serem louvados no filme além do roteiro e atuações. As imagens são escuras e elegantemente sinistras, a edição rápida tem um ritmo impecável com enquadramentos estranhos e a direção de arte dá um show ao recriar em detalhes uma casa funerária. Está tudo lá: as gavetas de guardar cadáveres, a mesa de dissecação, os instrumentos afiados que chegam a dar nos nervos e é claro cadáveres. A música também contribui para criar o clima certo para os sustos.

O filme começa devagar, mantendo um fogo lento que vai cozinhando o público, mas lá pela metade a coisa pega fogo com situações de limite e insanidade. Os personagens se veem presos num pesadelo do qual não conseguem despertar e de onde não parece haver escapatória. E quando você acha que já está ruim, pode acreditar: piora! 


É claro, nem tudo é perfeito. Em certos momentos, o diretor não resiste a apelar para alguns sustos baratos, como o irritante clichê do gato que salta do nada, mas há também sustos genuínos, muito bem orquestrados, como por exemplo um sininho colocado na cintura de um dos cadáveres que começa a produzir um som apavorante na escuridão. Esse é de uma tensão impressionante.

Tem muita coisa boa em "The Autopsy of Jane Doe" mas não posso (e não vou) falar demais para não estragar a diversão e dar spoilers. Os fãs do gênero não vão ficar desapontados e aqueles que procuram por um entretenimento um pouco mais durador do que os esquecíveis filmes da temporada passada - dos quais só se salvou "A Bruxa", vão se surpreender. 

Se você está procurando por algo para assistir com os amigos em uma noite escura de tempestade, então essa é uma excelente opção para saciar sua sede de sustos e arrepios.


Cotação:


Trailer:

sábado, 18 de fevereiro de 2017

Cidade Oculta - Os túneis e câmaras por baixo de Edimburgo


Abaixo das ruas da Capital da Escócia, Edimburgo existe um assustador mundo subterrâneo que era considerado assombrado para os supersticiosos na virada do século XVIII.

 As câmaras de Edimburgo, também conhecidas como South Bridge Vaults são únicas por oferecerem ao visitante um ambiente preservado de com era a cidade séculos atrás. Infelizmente a história de South Bridge é tão tumultuada que muitos acreditam que uma maldição pesa sobre esse subterrâneo intocado. Mesmo hoje, muitos dos moradores mais antigos de Edimburgo acreditam que esse não é um lugar para ser visitado. De fato, existe até mesmo a crença de que uma coisa medonhas e maligna habita esses túneis, uma presença conhecida como "A Entidade de South Bridge".

Em um país com tantas lendas e assombrações célebres, os subterrâneos talvez sejam um dos lugares mais temidos, o que em se tratando de Escócia, não é pouca coisa. A despeito de acreditar ou não nas lendas, o subterrâneo é um lugar que suscita pensamentos desagradáveis e atiça a imaginação a conjurar figuras sombrias.

Ao adentrar essas câmaras você se vê em um ambiente absolutamente escuro e estranhamente frio. A luz parece simplesmente incapaz de iluminar esses recessos cavernosos de pedra, concreto e tijolo. Qualquer luminosidade é engolida pelas trevas, provocando uma sensação de isolamento inenarrável. Além disso, o subterrâneo se estende como um labirinto de túneis e conexões tortuosas, algumas em franco processo de desgaste e prestes a desabar. Há ruelas e becos estreitos que forçam o explorador a andar agachado, tateando as pedras frias e cobertas de limo, em um contato físico claustrofóbico. 

As ruas que um dia estiveram na superfície são tortuosas, com pavimentação irregular de paralelepípedos. Um descuido e você acaba tropeçando em uma pedra solta, ganhando um joelho ralado. Na escuridão perpétua, enxergar o caminho só não é mais complicado do que se guiar. Não são poucas as pessoas que resolvem entrar nos subterrâneos e acabam se perdendo, vagando à esmo pelas estruturas em busca da saída.


A História desses subterrâneos é igualmente obscura e se todos os detalhes a respeito dela fossem conhecidos, é bem provável que até os mais destemidos as evitassem.

A estrutura da South Bridge (Ponte Sul), formada por dezenove arcos foi erguida sobre essa porção da cidade em 1788. A monumental obra de arquitetura e engenharia recobriu a parte antiga da cidade sob um domo de concreto armado, colocando nas sombras tudo o que existia lá embaixo como um caixote. Com efeito, as pessoas que moravam naquela área resolveram abandonar a vizinhança insalubre e escura, deixando tudo para trás.

Os primeiros anos da nova ponte foram marcados por um fato inusitado.

Quando a obra estava próxima de ficar pronta, a moradora mais antiga da região, a viúva de um Juiz conhecido pela austeridade foi convidada pela prefeitura de Edimburgo para ser a primeira a cruzar a ponte. Até aí, tudo bem, mas infelizmente, dias antes da inauguração a mulher adoeceu e as festividades tiveram de ser canceladas. Pouco depois, a idosa acabou falecendo, mas o prefeito decidiu que a promessa feita tinha de ser cumprida. Dessa forma, a primeira pessoa a "atravessar" a extensão da ponte foi o "corpo" da mulher em um caixão colocado numa carruagem fúnebre. No meio do caminho, o féretro foi interrompido e os cavalos se assustaram, os animais dispararam e atropelaram pessoas que estavam nas laterais da ponte, derrubando alguns lá do alto.  

Os moradores mais antigos ficaram horrorizados! A ponte estava amaldiçoada! A maioria dos moradores da região simplesmente se negavam a atravessar a ponte, preferindo ao invés disso adotar um caminho muito mais longo e complicado, através do Vale de Cowgate.


Para piorar as coisas, meses depois do acidente com a carruagem fúnebre, um dos engenheiros responsáveis pela obra quis mostrar que não havia nenhum perigo na travessia. Na metade do caminho, dizem, no exato local em que ocorreu a tragédia, ele sentiu um mau súbito e caiu fulminado vítima de um ataque cardíaco. Para alguns a causa mortis era muito mais séria: uma maldição.

Hoje em dia, é fácil culpar a falta de informação e ignorância das pessoas da época que eram realmente supersticiosas, mas ao longo dos séculos ficou claro que a ponte colecionava acontecimentos estranhos, nem todos passíveis de uma explicação razoável.

Por exemplo, dizem que o som de cavalos galopando velozmente pode ser ouvido de tempos em tempos no alto da ponte. Também se comenta muito a respeito de uma carruagem fúnebre, com plumas negras sendo puxada por cavalos de olhos vermelhos e cascos de fogo. A crença de que fantasmas das pessoas mortas na tragédia assombram o local é corroborada, segundo alguns, pelos lamentos e gritos que podem ser ouvidos na madrugada quando um nevoeiro denso cobre a ponte.

Também não ajuda em nada o fato da South Bridge ter se tornado um popular ponto de suicídio. A desconcertante quantidade de pessoas que escolhem esse lugar para se lançar do alto rumo a escuridão, motivou a construção de um posto de guarda para prevenir suicidas e posteriormente de uma cerca de ferro. Ainda assim, muitos saltam do alto da ponte, sendo que alguns infelizes, calcularam mal a trajetória e acabam empalados na cerca de ferro que deveria prevenir sua queda.

Mas voltemos a falar do subterrâneo que existe abaixo de Edimburgo.


Por cerca de 30 anos, as câmaras ficaram vazias, mas aos poucos elas foram sendo redescobertas por pessoas mais pobres e comerciantes que não tinham recursos para montar seus negócios em áreas mais nobres. Pequenas tavernas, bordéis de má fama e casas de ópio, além de ocasionais negócios legítimos ocupavam as casas decrépitas da Velha Edimburgo. O lugar era o paraíso de contrabandistas que encontravam espaço de sobra para esconder suas mercadorias roubadas. Também era um lugar para se esconder das autoridades, ao menos até elas pararem de procurá-los. Não é por acaso que no início do século XVIII o crime nessa região de Edimburgo atingiu um índice preocupante. Os subterrâneos eram o covil de bandidos, de assassinos e ladrões da pior estirpe que tinham ali uma espécie de refúgio regido pelas suas próprias leis. Até mesmo um tribunal improvisado e clandestino julgava as transgressões e punia aqueles considerados culpados - criminosos entre criminosos. 

Nesse submundo sórdido, negócios de toda natureza aconteciam sem a preocupação de que a polícia pudesse perturbá-los. Dizem que assassinos podiam ser contratados por algumas moedas, mercadores de escravos agiam livremente, prostituição e casas de jogo abundavam. Vício era algo corriqueiro e as casas de tolerância eram as mais decadentes da Escócia, aceitando sadismo, tortura e pedofilia atrás das cortinas de veludo escuro. A violência ocorria na frente de todos sem que ninguém se importasse. Corpos eram jogados nas calhas de água que levavam para fora.

A razão para toda essa ousadia era simples, a parte baixa de Edimburgo era uma verdadeira fortaleza onde a polícia não ousava interferir. Era virtualmente impossível entrar sem ser percebido. Ao primeiro sinal de encrenca, haviam incontáveis túneis para onde era possível escapar, inclusive sistemas de esgoto que conduziam para o outro extremo da cidade. Além disso, havia um acordo entre policiais e criminosos: desde que a sujeira ficasse restrita ao Subterrâneo, eles não seriam incomodados.   

Segundo rumores, os assassinos em série Burke e Hare, famosos por suprir as Escolas de Medicina (você leu o artigo a respeito?) com "material fresco" usavam um depósito no submundo para esconder suas vítimas. Dizem que os cadáveres ficavam ocultos no porão de um velho depósito em meio a uma pilha de palha seca. A temida quadrilha dos Degoladores também agiam no subterrâneo, apelidado de Hades (o místico inferno clássico). Os degoladores não usavam meramente esse nome, eles eram conhecidos por matar seus inimigos e arrancar suas cabeças com um garrote especial produzido com fios resistentes cobertos de cola e vidro moído.

Mas o Reino de Criminosos que proliferou nos subterrâneos de Edimburgo estava com os dias contados. Não seria a polícia a por um fim a suas atividades, embora a sociedade pedisse medidas imediatas. Foram as próprias condições de flagrante deterioração que contribuíram para sua ruína tornando o ambiente tão insalubre que nem mesmo os criminosos queriam ficar lá embaixo. A fumaça de fogareiros alimentados com carvão queimando dia e noite não tinha para onde ir e começou a se acumular nas câmaras tornando o ar irrespirável. As pessoas adoeciam e precisavam de máscaras para suportar o cheiro de fumaça misturado com o fedor de comida, lixo e esgoto.


As casas de comércio clandestinas fecharam suas portas e já em meados de 1850 apenas os mais pobres entre os mais pobres de Edimburgo aceitavam morar em habitações tão precárias.

Não se sabe ao certo quando o complexo de túneis foi fechado por completo e bloqueado pelos homens da prefeitura. Alguns acreditam que o fechamento se deu em 1855, mas outros creem que o subterrâneo continuou sendo habitado até meados de 1875. Não há documentos falando a respeito desse período, sobretudo porque essa verdadeira favela subterrânea era considerada uma vergonha para a população de Edimburgo. Tudo o que se sabe é que em 1890 toneladas de lixo foram descarregados dentro dos túneis tornando o acesso impossível.  

As câmaras sob South Bridge foram redescobertas por Norrie Rowan, um ex-jogador de Rugby e historiador amador que descobriu um túnel de acesso não obstruído no início dos anos 1980. Cerca de cinco anos mais tarde Norrie e seu filho escavaram uma das câmaras passando por toneladas de detritos até chegar a uma das ruas subterrâneas perfeitamente conservadas.

No anos seguintes, as câmaras que compreendem a South Bridge e o Arco Cowgate se tornaram parte do roteiro de passeios guiados da cidade. Os turistas tinham a chance de ver como eram as ruas e os prédios construídos há 300 anos. Um pedaço da história perfeitamente preservado surgia diante deles. No entanto, apenas uma pequena parte do subterrâneo era acessível aos visitantes. Limpa e iluminada ela era uma atração para os entusiastas de história, contudo a maior parte das câmaras se encontrava fechada e raramente via algum movimento. Pesquisadores e historiadores tinham permissão para explorar os túneis e frequentemente retornavam de seu interior escuro com algum artefato de eras passadas.

Sabe-se também que desabrigados e mendigos viviam nesses túneis que também eram usados por criminosos e drogados. Com essa população marginal, não era de se estranhar que fosse um lugar perigoso, altamente desaconselhável para curiosos. Mesmo assim, todo ano alguém se perdia nesse labirinto. As pessoas simplesmente eram atraídas pela aura de mistério e decadência do lugar e quando se davam conta, estavam perdidas.


Como não poderia deixar de ser, o que não faltam são lendas e rumores sobre fantasmas na parte mais escura de Edimburgo.

"É um lugar muito sinistro. Há muitos, muitos espíritos lá embaixo", conta Nicola Wright, um dos guias que tinham autorização para descer na Cidade Subterrânea. Wright trabalhou por 15 anos levando turistas ao local e disse ter visto muitas coisas estranhas.

"Uma aparição recorrente era a de um homem de meia idade que corria pelos corredores com a garganta cortada. Seus passos podiam ser ouvidos ecoando pelas câmaras baixas. Dizem que ele foi vítima da gangue dos Degoladores. Também existia o fantasma de uma mulher, possivelmente uma prostituta que trabalhou em um dos bordéis que existiam na cidade baixa, a figura já foi vista várias vezes espiando do alto de uma janela, fazendo sinais e insinuações para quem passa".

Há ainda a famosa Entidade de South Bridge, um monstro envolto num manto de névoas esvoaçantes. Ele se aproxima das pessoas e as envolve com uma fumaça congelante as deixando aterrorizadas. Essa famosa "entidade" seria o terror de vários investigadores psíquicos que se disseram profundamente perturbados por uma presença maligna espreitando nos túneis. Um famoso médium aceitou acompanhar uma equipe de televisão até os subterrâneos onde entrou em contato com a entidade. Segundo ele, o contato foi tudo menos amistoso, o medium mostrou duas marcas de mordida que apareceram em seu ombro logo que ele tentou estabelecer um transe.

A entidade seria responsável por causar crises de pânico e surtos de desespero em indivíduos sensitivos. Também são reportadas súbitas mudanças de temperatura, com bolsões congelantes, ruídos estranhos e atividade psicocinética com direito a objetos voando. Em pelo menos três oportunidades objetos de madeira se incendiaram espontaneamente e em outras tantas ocasiões pessoas sentiram empurrões e mordidas.

Em 2001 o Professor Richard Wiseman da Universidade de Hertfordshire conduziu um estudo psicológico com pessoas que foram convidadas a passar várias horas no interior das câmaras. Seu objetivo era determinar se pessoas que acreditavam no sobrenatural eram mais propensas a presenciar ocorrências sobrenaturais do que as que não acreditavam. Segundo a teoria de Wiseman pessoas que acreditavam no paranormal criariam em sua mente situações ou eventos sobrenaturais espontaneamente. O resultado foi surpreendente: não apenas as pessoas suscetíveis, mas aqueles que se disseram céticos relataram ter visto ou sentido coisas estranhas durante sua permanência na cidade subterrânea. Muitos dos céticos estavam mais assustados do que os crentes a ponto de um dos ditos céticos implorar para retornar depois de um encontro com a "Entidade de South Bridge".


Com tudo isso o que podemos concluir a respeito desse lugar? Sem dúvida, os subterrâneos de Edimburgo são um lugar escuro e triste, com uma longa e macabra história de crime, violência e desespero. Para os parapsicólogos, emoções fortes e situações traumáticas deixam um rastro no tecido psíquico mesmo que tenham ocorrido há muito tempo. É como riscar um fósforo em uma sala lacrada e ainda poder sentir o seu cheiro horas depois. Episódios traumáticos e ocorrências violentas deixam o mesmo resquício que ainda podem ser captados. Se isso for verdade, os fantasmas de Edimburgo parecem ter um lugar de encontros muito propício.

Em 2015, a prefeitura da Cidade de Edimburgo decidiu proibir as Visitas Guiadas e fecharam os túneis ao público. 

Atualmente as visitas são estritamente monitoradas por motivos de segurança... ou assim dizem.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

Rosto Retorcido - O Mistério do "Gurning Man" de Glasgow


O mistério do "Gurning Man", cuja tradução poderia ser algo como "O Homem do Rosto Retorcido", tem relação com estranhas aparições e o desaparecimento de um estranho indivíduo em pleno ar. Seria um louco? Uma ilusão de ótica? Um viajante do tempo ou talvez de uma realidade paralela? Quem quer que ele tenha sido, com toda certeza semeou o medo em todos aqueles que tiveram o azar de encontrá-lo.

As primeiras aparições do "Gurning Man" datam do final da década de 1970. A maioria dos encontros com o estranho ser tiveram lugar em Glasgow, na Escócia, nos arredores do distrito de Crosshill, na parte antiga da cidade, em um horário compreendido entre as 19 e 22 horas.

De maneira completamente inesperada, mulheres começaram a relatar a aparição de uma figura parecida com um homem de média estatura, mas com o comportamento de um lunático. Os avistamentos foram reportados ao longo de três anos (entre 1976 e 1979) e muitas das testemunhas estavam tão traumatizadas que resolveram deixar a região em que viviam e se mudar para lugares diferentes, quanto mais longe melhor. Outras escolheram nunca mais passar por aquelas ruas, tamanho o trauma deixado pelo encontro.

Uma dona de casa de cinquenta anos que vivia com esposo e filhos, foi a primeira pessoa a mencionar a estranha criatura. Ela despertou no meio da noite e percebeu uma sombra sentada na beira da cama de seu quarto. Parecia um homem com as mãos pousadas sobre o rosto e por um momento, ela achou que se tratava de seu marido. Ele parecia chorar ou rir de forma maníaca, o peito arfando profundamente. Quando ela se moveu para perto dele, a figura removeu as mãos do rosto e ela conseguiu ver que se tratava de uma face totalmente retorcida, como se estivesse borrada e fora do lugar. 

A mulher tentou gritar mas não conseguiu emitir nenhum som e acabou desmaiando enquanto buscava a porta para fugir. Ela foi encontrada caída no chão do quarto, e quando retomou a consciência horas depois, contou o que havia acontecido. A casa não apresentava nenhum sinal de arrombamento e a única coisa da qual ela sentiu falta foram alguns pratos, uma cortina e alguns talheres que sumiram da cozinha, nada de valor. 

Felizmente ela não foi ferida, mas sempre que tentava descrever o invasor era acometida de uma crise histérica incontrolável, sobretudo quando falava de sua face retorcida. A mulher foi dissuadida pelos filhos e pelo marido de prestar queixa e apenas meses mais tarde, quando outros casos chegaram aos jornais, ela procurou as autoridades.


O avistamento poderia ser facilmente descartado como uma brincadeira de mau gosto, mas foi apenas o primeiro de múltiplos relatos, sempre de mulheres que viviam na mesma região de Glasgow.

Alguns dias mais tarde, duas adolescentes tiveram um encontro igualmente horrível com a bizarra criatura que surgiu na porta da casa onde elas moravam a pouco mais de 500 metros da primeira vítima. Enquanto voltavam para casa depois de uma festa, perceberam um sujeito sentado nas escadas da entrada de seu prédio. Segundo a descrição, era um homem de idade, com pelo menos 50 anos, com alguns poucos cabelos brancos, extremamente magro e vestido com uma roupa fora de moda. O sujeito parecia agitado e seu peito arfava como se estivesse sofrendo um tipo de ataque. 

Ele permanecia com a cabeça baixa e por vezes respirava alto produzindo um tipo de ronco roufenho quase como uma respiração asmática. As garotas perceberam ainda que as luzes dos postes que deveriam iluminar a rua estavam apagados e por isso não conseguiam discernir ao certo a expressão do homem.

A medida que se aproximaram, tiveram uma sensação estranha, descrita como um "temor incontrolável". Uma delas se virou e pôs-se a correr na direção contrária, a outra ficou paralisada assistindo enquanto o estranho se levantava e caminhava vacilante na sua direção. Segundo a testemunha, a figura era baixa e atarracada, movia-se com um tipo de ginga desajeitada como se as pernas não fossem do mesmo tamanho. Mas o pior era o rosto aterrador: todo retorcido com uma boca larga, bochechas cavadas, olhos desproporcionais e um nariz achatado. O cabelo branco e desgrenhado, com fios longos corria pelo escalpo. Ele deu três ou quatro passos em sua direção e parou a alguns metros apenas quando ela encontrou sua voz e pôs-se a gritar desesperadamente. Nisso a criatura fez algo ainda mais estranho, começou a imitar os gritos da jovem, enquanto ria sem parar.

A moça contou que ficou em choque, sentiu que ia perder a consciência. Quando olhou novamente o "Gurning Man"  havia desaparecido como se nunca tivesse existido. Os gritos atraíram vizinhos e a polícia que colheu os depoimentos. Um dos detetives que respondeu ao chamado, relatou atônito que aquele era o terceiro informe a respeito de um homem estranho de face retorcida e comportamento bizarro. Assim nascia a lenda do Gurning Man.


Nos meses seguintes, outras mulheres viram a bizarra aparição. No total 17 mulheres afirmaram ter cruzado o caminho da figura de face retorcida na área de Crosshill entre 1976 e 1979. Onze dos encontros ocorreram no meio da rua, enquanto outros seis tiveram lugar dentro da casa com algum morador acordando ou se deparando com ele. Todos os testemunhos descreviam o homem da mesma maneira: um idoso com aproximadamente 50 anos, quase calvo, exceto por alguns fios esparsos de cabelo branco, extremamente magro, vestindo uma roupa antiquada. Seus movimentos eram agitados, sua respiração falhava, produzindo um ronco frequente que lembrava um ataque de asma. A face parecia se desmanchar, como se a pele estivesse derretendo e escorrendo pelo rosto como uma máscara de lama ou uma vela derretida. Os olhos eram pequenos e azuis segundo a maioria, a boca larga e rasgada com dentes se projetando nos cantos. Ele andava de maneira desajeitada, mas isso não o impedia de correr e empreender perseguições em mais de uma ocasião.

Contaram ainda que ele ria e que sua risada talvez fosse a pior coisa a seu respeito. Era como uma risada de velho, ofegante e abafada, entremeada por ruídos de pigarro seco. Era acima de tudo uma risada de escárnio, pois ele sempre se divertia quando a testemunha se via incapaz de escapar ou gritar. Aliás, esse era um detalhe perturbador presente em vários relatos. As mulheres se mostravam incapazes de reagir, sentiam náusea, tontura, vertigem e um medo paralisante. Muitas ficavam tão aterrorizadas que estacavam, não conseguiam se mover e eram encontradas inconscientes, tomadas de um horror tamanho que as fazia desmaiar.

Nenhuma entretanto, chegou a apresentar ferimentos físicos. Mesmo aquelas que relataram ter sido tocadas pelo desagradável ancião enquanto se encontravam paralisadas, afirmaram não terem sido machucadas por ele. Muitas no entanto perceberam que algo lhes faltava: um lenço, um sapato, uma chave, uma revista ou um estojo de pó compacto. Algumas carregavam carteiras ou objetos de valor, mas estes não eram levados, ao invés disso, itens corriqueiros tendiam a sumir.

Outro elemento curioso era o fato do Gurning Man simplesmente desaparecer no ar. As testemunhas que o encontravam não conseguiam explicar como se dava esse desaparecimento, ele simplesmente estava lá em um determinado momento, e no seguinte, havia sumido sem deixar rastro. Durante o auge dos avistamentos em 1977, grupos de vigilância se formaram para trazer à justiça a incômoda aparição, mas ninguém conseguiu encontrar sinal dele. Ainda assim, o Gurning Man continuava aparecendo para as mulheres que escolhia aparentemente ao acaso.

Em outubro de 1979, ele fez a sua última aparição em um parque de Crosshill. Duas amigas relataram que a estranha figura surgiu próxima a um banco e se aproximou delas em passos vacilantes com seu movimento característico. As duas conseguiram conter o pavor que ameaçava dominá-las e fugiram gritando por socorro. Um grupo de pessoas que estava em um pub correu para acudi-las e em seguida para o parque onde contaram ainda ter visto um sujeito correndo. Mas ao seguir na mesma direção não acharam sinal dele.

Ao longo dos anos, surgiram suposições sobre a identidade do homem. Alguns supunham que ele pudesse ser um interno de uma casa de repouso que ficava no distrito próximo. Outros achavam que pudesse ser um morador de rua que se escondia durante o dia no subterrâneo da cidade usando as galerias de esgoto como sua casa. Esses suspeitavam que conhecendo os corredores subterrâneos ele podia facilmente "sumir" e reaparecer em outros cantos da cidade. Diaiam que ele usava uma máscara de látex para esconder o rosto, uma máscara que lhe deixava com uma aparência de velho.

Finalmente, alguns ofereceram explicações mais metafísicas, alegando que o Gurning Man poderia ser o espírito de um homem que viveu naquela vizinhança séculos antes e que morreu em um incêndio que destruiu várias casas. O rosto desfigurado poderia ser resultado de um acidente, talvez de uma queimadura. Defensores de teorias envolvendo viajantes dimensionais afirmavam que a misteriosa figura poderia ser alguém que em um momento de crise acabou rompendo o véu do tempo aparecendo em uma época que não era sua. O pânico e o desespero deflagrado pelo incêndio teria causado essa fissura que permitia a ele cruzar para nossa linha temporal. Isso explicaria a respiração típica de alguém que inalou fumaça, seus ferimentos e o fato dele usar roupas condizentes com alguém que viveu no século XVII. 


Parapsicólogos tentaram provar essa última teoria, pesquisando o passado de Crosshill e descobrindo uma velha história a respeito de um habitante da vizinhança que teria sofrido queimaduras horríveis durante o tal incêndio e que por isso saía apenas à noite. Infelizmente não conseguiram qualquer comprovação a respeito dessas narrativas.

O mistério do Gurning Man de Glasgow jamais foi solucionado. Sua última aparição deixou um vácuo de perguntas sem respostas. Quem era ele? Seria produto de uma alucinação coletiva ou uma pessoa real? Seria alguém que ingressou em nosso universo por acidente e se viu impedido de partir?

Quem quer que tenha sido, as pessoas em Glasgow ainda se recordam da figura e de seu nome, um nome que ainda evoca terror após tantos anos.

domingo, 12 de fevereiro de 2017

Lugares Estranhos: Glamis, Segredos do mais assombrado Castelo da Escócia

"Se soubesse dos segredos desse castelo, você se colocaria de 
joelhos e agradeceria a Deus por ele não ser seu".

Conde de Strathmore, 
Lorde de Glamis

O terrível Segredo do Castelo de Glamis (pronuncia-se "Glarms") foi um dia um dos assuntos mais comentados nas cortes da Europa no século XIX ao início do Século XX. Entre 1840 e 1910, o Castelo, localizado, nas Terras Baixas da Escócia, foi o centro do "mistério dos mistérios", um enigma que envolvia entre outras coisas câmaras ocultas, passagens secretas, adoração diabólica, escândalos profanos e figuras sombrias espreitando atrás das muralhas do castelo.

O tal mistério envolveu gerações de nobres até que, em meados de 1910, o segredo em si se perdeu. Uma das versões da história afirmava que o segredo era tão tenebroso que um dos herdeiros do Conde ao tomar conhecimento dele, trancou-se em um dos aposentos no alto de uma torre, cogitando se lançar lá de cima. Ao invés disso ele partiu jurando que nunca mais colocaria seus pés em Glamis, promessa solenemente cumprida. Ainda assim, o Mistério de Glamis  permanece. Ele seria protegido por um grupo ligado a nobreza britânica (contando com pessoas da própria família real) e por indivíduos fiéis a um juramento.

Mas até que ponto a lenda substituiu a verdade?

O soturno Castelo de Glamis é mencionado por Shakespeare, em sua obra prima Macbeth, descrito como "um lugar ermo e assombrado". Em 1034 o Rei da Escócia, Malcolm II morreu atrás de suas paredes, ou mais provavelmente, foi assassinado em um dos seus muitos aposentos. Criados que trabalharam lá, falavam de fantasmas e sombras que se moviam pelos corredores e escalavam os muros, misturando-se à escuridão das ameias. 

Não faltam lendas a respeito desse lugar amaldiçoado, e após conhecê-lo, tais rumores, por mais bizarros que sejam, soam estranhamente razoáveis. O Castelo em sua forma atual foi concluído no século XV, tendo como base uma torre retangular cujas paredes chegam a quase cinco metros de espessura. Uma construção quase inexpugnável, erguida para proteger quem está dentro, ou talvez para impedir que algo lá dentro saísse.


Glamis foi o berço de poder da Família Strathmore desde o término de sua construção, mas no fim do século XVIII a propriedade já estava deserta; seus donos preferiram viver em um lugar não tão isolado, sem tantas correntes de vento e menos melancólico. Culpavam o clima e as agruras do isolamento, mas à boca miúda circulavam outro rumores. Estes davam conta de que uma miasma nauseante brotava do solo, que uma névoa maligna perpétua pairava sobre o lugar, que coisas ruins aconteciam com alarmante frequência: Mulheres grávidas abortavam, homens saudáveis adoeciam, acidentes fatais ocorriam nas escadas, sacadas e diante de janelas, suicidas encontravam o motivo final para dar aquele passo derradeiro rumo a tragédia. Havia claramente algo ruim naquele lugar, algo que compelia as pessoas a abraçar o esquecimento. Alguns diziam que era uma presença, uma forma invisível, que embora imaterial, ainda podia ser percebida. Algo essencialmente ruim e imensamente destrutivo com forma de pesadelo e essência de horror.

Na ausência de habitantes (ao menos vivos), Glamis foi deixada aos cuidados de um Administrador de Terras, e foi a esse sujeito que o jovem escritor Walter Scott escreveu em 1790 pedindo permissão para passar um final de semana no local. Scott foi o primeiro de muitos autores que perceberam a atmosfera opressiva do castelo e desejaram investigar por conta própria seu passado. Ele escreveu em um artigo publicado em 1830: 

"Uma vez sozinho, não demorou para que eu sentisse que era a única coisa viva no Castelo e mesmo assim,que não estava inteiramente só. Enquanto permaneci lá dentro, senti que havia outra presença; algo muito próximo da morte e que não encontrava descanso".


Dizem que o grande novelista vagou sozinho pelos corredores, salões e câmaras desertas de Glamis durante o tempo que foi seu hóspede solitário. Na exploração, auxiliado apenas por um castiçal de luz tênue, afirmou ter descoberto um aposento oculto - um lugar lacrado há muito tempo, onde violência e morte ainda impregnavam a pedra nua. Conta-se que naquele aposento nefasto haviam ocorrido missas negras e o Sabbath de feiticeiros que invocaram demônios. A existência de tal lugar, segundo Scott, era conhecida apenas pelo Conde, pelo administrador e pelo herdeiro. O aposento havia sido isolado com uma parede falsa e lá dentro ainda se encontrava um altar consagrado ao serviço de Lúcifer sobre o qual pendia suspensa uma cruz invertida. Segundo os rumores, vários outros aposentos que serviam ao mesmo fim foram igualmente selados para que ninguém jamais soubesse dos horrores que ali dentro haviam transcorrido.

Apesar da descrição minuciosa e das implicações sobre o passado de Glamis, seria outra lenda igualmente chocante que ganharia a atenção do mundo nos séculos seguintes. Ela também consolidaria o Castelo como um dos lugares mais malditos do mundo. Segunda essa lenda, Glamis, não estaria totalmente vazio, haveria um prisioneiro misterioso residindo em um aposento secreto por toda sua vida.


Um correspondente do jornal Notes and Queries, escreveu em 1908 a respeito da lenda:

O segredo foi revelado por um criado que serviu a casa por mais de 60 anos, uma indiscrição considerável e um segredo escandaloso. Segundo a informação, o Castelo de Glamis possuía várias câmaras secretas: e nelas estaria confinado um monstro, que seria o verdadeiro herdeiro do título e da propriedade. Ele foi aprisionado desde seu nascimento, escondido dos olhos curiosos e acusadores, como se jamais tivesse existido, visto que a sua aparência era abominável e causaria constrangimento à família.

A identidade desse misterioso prisioneiro se tornou motivo de considerável especulação entre famílias nobres na Inglaterra e no resto da Europa. 

As pessoas acreditam que ele pudesse ser um membro da Família Strathmore, possivelmente o primogênito do Décimo Primeiro Conde, portanto, herdeiro legítimo do Título e Senhor de Glamis por direito sucessório. Defensores da teoria apontavam para uma anotação em um Livro Nobiliárquico, o Douglas’s Scots Peerage, no qual consta que o primeiro filho do Lorde de Glamis, casado com Charlotte Grimstead, havia nascido em 21 de outubro de 1821 e morrido apenas três dias depois. Acredita-se que a criança tenha nascido com uma grotesca deformidade e que sua morte tenha sido forjada. Não existe contudo nenhuma sepultura pertencente a essa criança e não se sabe onde ela foi enterrada. A criança teria sido levada a uma das câmaras lacradas do Castelo, as mesmas câmaras malditas usadas em celebrações profanas transformadas dali em diante no seu lar. Ali era cresceu e se converteu em algo aterrorizante, desejando vingança por tudo que sofreu e pelas privações que lhe foram impostas.


Muitos se perguntavam o que poderia ter acontecido com o herdeiro caso a história fosse verdadeira. Aos poucos, a lenda começou a ganhar contornos especulativos que incluíam até mesmo o fato do herdeiro ter se envolvido com as forças diabólicas que um dia haviam sido invocadas. Alimentado por aquele mal diabólico, o herdeiro teria se tornado algo bem pouco humano.

Vários convidados de Glamis durante a Era Victoriana tentaram descobrir a verdade sobre o segredo do Castelo. Acreditavam que localizando as passagens secretas e portanto as câmaras ocultas, poderiam solucionar o destino do herdeiro desconhecido. Alguns cogitavam que ao encontrar esses acessos poderiam talvez descobrir os ossos deformados e cobertos de poeira do herdeiro. Outros supunham que os anos de isolamento haviam deixado o pobre diabo completamente louco e que por isso, seu fantasma ainda estaria assombrando o local. 

Pode soar como o roteiro de uma novela de Horror Gótico, mas muitas pessoas na época realmente acreditavam nessas teorias. Apontavam a maneira como os membros da Família Strathmore tratavam aqueles dentre eles considerados como "ovelhas negras". Havia rumores de incesto, violência, sadismo entre outras coisas. Após a Grande Guerra, Katherine e Nerissa Bowes-Lyon, primas em segundo grau da Rainha Elizabeth II, e parte dos Strathmore, foram consideradas mentalmente instáveis - em parte por terem ideias modernas demais. Ambas foram interditadas e trancafiadas em asilos onde terminaram seus dias esquecidas pelos demais.  

A Família Strathmore sempre foi alvo de muitas suspeitas quanto a casamentos celebrados entre primos muito próximos o que teria resultado em nascimentos problemáticos. O grande número de crianças abortadas causava estranheza, era como se uma maldição pairasse sobre suas cabeças.


Outro tema sujeito a debate dizia respeito a aparência grotesca do "Monstro de Glamis". Há histórias de grandes sombras, mais escuras do que o normal e de horríveis deformações.

Um dos lugares mais assombrados do Castelo tem um nome sugestivo, é uma passagem chamada "Mad Earl Walk" (A Passagem do Conde Louco). Uma narrativa datando de 1865 diz que um criado recém contratado para cuidar da propriedade se perdeu no interior do Castelo e quando vagava por um corredor percebeu uma porta aberta. Entrando para explorar o aposento, o homem viu "alguma coisa" no final da câmara que começou a se arrastar pelo chão na sua direção como se fosse uma "poça de tinta viva". O sujeito fugiu em disparada aos gritos e foi encontrado em choque. Quando contou o que havia visto, os colegas se puseram a procurar o aposento, mas não o localizaram aquilo que seria uma das câmaras secretas. A experiência foi tão traumática que o criado pediu suas contas e imigrou para a Austrália, com a passagem paga pelo próprio Conde de Strathmore.

Uma outra narrativa, afirmava que o monstro seria parecido com um sapo-humano.

A única descrição detalhada surgiu em meados de 1960, quando o escritor James Wentworth-Day ficou algum tempo em Glamis enquanto escrevia a biografia da Família Strathmore. De alguns criados de confiança, Day ouviu o relato de que "um monstro havia nascido na propriedade". Ele seria o herdeiro do título, mas ao mesmo tempo, uma criatura apavorante de contemplar. Era impossível permitir que aquela "caricatura deformada de ser humano" fosse vista - mesmo pelos amigos mais próximos. Seu peito era como um enorme barril, sua face coberta de verrugas, a cabeça desproporcional e inchada, braços e pernas curtos e finos pendendo como galhos. De sua boca escorria um fio perpétuo de saliva grossa. Ele não falava de maneira compreensível, mas gemia e murmurava para si próprio. Apesar de todas as suposições de que ela não sobreviveria, a criança se fortaleceu e atingiu a maioridade.

Dizem que pior que a sua aparência bestial era a disposição para fazer coisas perversas. Costumava assustar os poucos criados de confiança que o serviam, os empurrava das escadas e não perdia a chance de atear fogo em qualquer coisa se tivesse a oportunidade. Também havia desenvolvido uma paixão por torturar pequenos animais como pássaros e ratos que conseguia agarrar no forro nos corredores. Dizem que chegou a atacar mais de uma criada, sempre as mordendo na face, oq ue produzia cicatrizes horríveis. O herdeiro parecia se deliciar com o sofrimento alheio e estava desenvolvendo um gosto peculiar por causar dor.


Algumas narrativas nesse ponto se tornam ainda mais macabras relatando que ao atingir 19 anos, os demais irmãos teriam decidido dar cabo do inconveniente. Dois homens de confiança do Conde foram chamados para eliminar o rapaz colocando veneno em sua refeição. Em seguida carregaram o corpo desacordado para uma das câmaras secretas e ergueram uma parede de tijolos para que ninguém o encontrasse. Uma das lendas mais medonhas afirma que o veneno não foi suficiente para matar o herdeiro e que ele ainda conseguiu se recuperar acordando na escuridão, em um cômodo de onde não havia escapatória. Lá ele agonizou por dias até morrer de inanição, aos gritos e prantos.  

Há outras histórias misteriosas a respeito de Glamis, muitas delas envolvendo as câmaras secretas cuja localização continuam desconhecidas. Plantas oficiais relatam a construção de ao menos uma câmara oculta na base da torre, mas muitas outras provavelmente existiam já que construir acessos secretos em propriedades nobres era algo corriqueiro. Passagens secretas em castelos eram usadas não apenas para escapadas noturnas de seus senhores, mas para que, na iminência de um cerco os nobres pudessem fugir de invasores.

Um convidado aristocrático, Lorde Ernest Hamilton, escreveu em seu diário a respeito da descoberta de uma passagem escondida sob um alçapão no chão do Quarto de Vestir do Aposento Azul. Uma passagem que ligava o aposento a um corredor e então a outro cômodo contíguo. O New York Sun publicou um artigo em 1904 a respeito de outro hóspede que encontrou uma passagem secreta em Glamis:

Em certa ocasião, um jovem médico que estava passando alguns dias na propriedade por razões profissionais, encontrou ao retornar para seu quarto um alçapão escondido em baixo do carpete. Ele percebeu que havia uma marca distinta naquele ponto e removendo o carpete encontrou um alçapão, que forçou, revelando a existência de uma passagem. O corredor terminava em uma parede de tijolos. O cimento ainda estava molhado como se tivesse sido erguido recentemente. Ele retornou ao quarto, e na manhã seguinte foi chamado pelo Chefe dos Criados, que lhe entregou um cheque e o avisou que uma carruagem o esperava. Seus serviços não eram mais necessários e sua passagem havia sido agendada no primeiro trem para o Sul.


Nem todos os relatos envolvendo o Mistério de Glamis são anônimos. Sir Horace Rumbold, um diplomata britânico relatou uma história que teria ocorrido em 1875, quando a esposa do Conde pediu a um grupo de amigos pessoais que a ajudassem a organizar uma busca pelos aposentos secretos enquanto o marido estava viajando.

Os convidados buscaram pelas passagens secretas que permitiriam acesso aos cômodos ocultos e por acaso um dos convidados localizou um mecanismo engenhoso que abria uma porta até então desconhecida. Infelizmente antes que pudessem explorar o aposento o Conde retornou e furioso ordenou que os convidados fossem expulsos. Segundo os relatos da época, o Conde era um homem irascível, sem paciência para esse tipo de brincadeira, ainda mais dentro de sua propriedade. Antes de expulsar os convidados, alertou a todos que não iria tolerar mais nenhuma fofoca a respeito de Glamis e que estava cheio de tantas lendas.

O Conde teria relatado ao seu filho mais velho, já no leito de morte, que a "influência sinistra do Castelo era uma espécie de maldição passada para todos na família. E que a despeito dessa maldição era responsabilidade de cada Conde preservar Glamis". Uma das primeiras medidas do 13o. Conde foi restaurar a Capela do castelo que estava em estado de abandono. As obras de restauração foram concluídas em 1889, e de acordo com o Penny Illustrated Paper, "um convidado que estava desfrutando de um fim de semana no castelo, passou diante da capela. Lá ele conseguiu ver uma figura ajoelhada em oração diante do altar. A imagem era tão real que ele conseguiu ouvir o som de soluços evidenciando que eles estava chorando. Mais tarde, o convidado relatou o que havia visto e chocados os anfitriões disseram que a descrição do indivíduo encaixava perfeitamente na aparência do falecido avô do Conde".

Outros visitantes contaram histórias similares a respeito de ruídos estranhos, figuras espectrais e correntes d evento frio soprando de lugar nenhum. Virginia Gabriel, uma famosa cantora foi hóspede do Castelo em 1896 e contou ter testemunhado estranhos fenômenos na propriedade entre os quais o som de correntes e batidas que vinham de trás das paredes. Andrew Ralston, outro ilustre hóspede contou que durante uma tempestade teve de ser mudado de quarto por não conseguir dormir com a sinfonia de batidas e arranhões que ouvia provenientes das paredes.    

Ele escreveu em seu diário o seguinte comentário:

"Lady Strathmore certa vez confidenciou a minha esposa que sofria de grande ansiedade quando era obrigada a vir ao Castelo que pertencia a Família de seu marido. Ela desejava desvendar o mistério, mas temia que a revelação pudesse ser por demais chocante. Seu marido a proibiu de falar a respeito do que ele classificava como tolices, mas ela sabia que havia de fato algum segredo em Glamis. Algo que perturbava não apenas seu marido, mas outras pessoas próximas a ele que juraram preservar o segredo".


Um dos rumores persistentes é que o 13o. Conde faleceu em 1910 sem compartilhar com seu herdeiro a natureza do segredo. Outros afirmam que ele ordenou aos depositários do segredo que poupassem seu filho do infortúnio de conhecê-lo. Há rumores de que estes tentaram revelar a história, mas que o herdeiro se negou a ouvi-los e os expulsou de sua presença. Pouco antes de morrer em 1960, o 14o. Conde Strathmore declarou que desconhecia e que jamais desejou saber, do que tratava o Segredo de Glamis. "Eu nunca soube de nada e fico feliz de não saber de nada. Essa revelação aparentemente não trouxe nada a minha família senão tristeza".

Isso no entanto, não quer dizer que o segredo se perdeu por completo.

Pessoas muito influentes na nobreza britânica supostamente continuaram compartilhando do mistério sem jamais deixá-lo transparecer ao público, quase como uma Irmandade incumbida de proteger Glamis e seu passado. Qual o teor desse segredo e porque ele era tão importante, ninguém sabe ao certo. Presume-se que o segredo envolveria a alta nobresa britânica, talvez até uma indiscrição quanto a linha sucessória.

Em 1976, o então Conde de Strathmore decidiu alugar o Castelo de Glamis a um valor bastante elevado. O fato do Conde aceitar alugar a ancestral propriedade de sua família sugere que toda e qualquer conexão existente dele com o celebrado mistério haviam desaparecido. Não havia mais necessidade para manter segredos ou salvaguardar os aposentos secretos.


Será que o Mistério do Castelo de Glamis não passava de uma mera fofoca?

Os rumores de aposentos ocultos e passagens secretas, de herdeiros monstruosos e horrores diabólicos provavelmente não passavam de simples fábulas e como tal elas foram caindo no esquecimento a medida que as pessoas perdiam o interesse nelas.

Mas o que dizer das muitas histórias sobre assombrações e bruxaria? De passagens secretas e câmaras que serviam a vis propósitos? De monstros deformados escondidos? Será que tudo isso também não passava de lenda?

Bem, a verdade nesse caso parece fadada a não ter uma solução.

Ao menos, não nessa vida...

sábado, 4 de fevereiro de 2017

Os Ladrões de Corpos - A Assustadora história de Burke e Hare


Em uma segunda feira, 3 de novembro de 1828, a cidade de Edinburgo acordou com horríveis notícias a respeito dos crimes mais atrozes praticados naquela década - talvez até, no século até então, como sugeriu um jornal. Os atos medonhos foram cometidos no distrito de West Port na parte antiga da cidade, conhecida por ser um lugar perigosos e escuro. Os criminosos eram William Burke e William Hare, que juntos com as comparsas Helen McDougal e Margaret Hare, eram acusados de matar nada menos do que 16 pessoas ao longo de doze meses.

O pior de tudo eram os motivos torpes para cometer os crimes. O grupo formava uma quadrilha que passou a ser notória em toda Escócia não apenas por serem ladrões de corpos, mas Assassinos impiedosos. O macabro bando liquidava suas vítimas e negociava os cadáveres de suas vítimas com hospitais, escolas e universidades médicas para suprir a demanda de espécimes para dissecação. O comprador dos cadáveres era ninguém menos do que o Dr. Robert Knox, um conhecido professor de anatomia de uma das mais conceituadas instituições da capital escocesa, o Surgeons College. A chocante investigação criminal e o subsequente julgamento levantou diversas questões delicadas sobre a prática da Medicina e a melhor maneira de se obter espécimes para que os médicos pudessem aprender seu ofício. Trouxe também uma série de questionamentos a respeito da maneira como a força policial estava equipada para a tarefa de proteger o público.

Os dois criminosos retratados na época do julgamento.
Os crimes foram revelados quando dois inquilinos de Burke, Ann e James Gray, começaram a suspeitar do misterioso desaparecimento de uma hóspede, Madgy Docherty, que eles haviam conhecido na Pensão de Hare uma noite antes. Eles encontraram o que parecia ser indícios de luta em um dos quartos e manchas de sangue no assoalho. Seguindo o rastro encontraram o corpo sem vida de Docherty escondido em baixo da cama de um aposento trancado. "A expressão de horror na face pálida da pobre mulher fez com que procurássemos a polícia", contou Gray mais tarde.

Burke, McDougal, e os Hare foram presos pelo assassinato de Docherty. William e Margaret Hare aceitaram delatar seus comparsas, convertendo-se em testemunhas. A narrativa do casal para a promotoria, em troca de imunidade, revelou um caso ainda mais macabro que deixou a cidade em estado de choque. Burke e McDougal foram julgados por assassinato em Dezembro de 1828. Contra McDougal as provas não foram suficientemente conclusivas e ela acabou sendo liberada, já Burke foi sentenciado à morte. Ele foi executado em 28 de janeiro de 1829. Seu corpo ironicamente foi enviado para o Colégio de Medicina, dissecado e publicamente exibido para os curiosos. O método usado pela quadrilha para matar suas vítimas, sufocamento através de pressão compressora sobre o peito, passou a ser conhecido universalmente como "burking", uma forma cruel de matar usando o peso corporal em um processo de esmagamento dos pulmões. As vítimas morriam de hemorragia, literalmente afogando-se em seu próprio sangue.

A história de Burke e Hare, no entanto, não parou por aí. Ela encontrou seu caminho através de revistas populares, os chamados Penny Dreadful, publicações baratas vendidas para os cidadãos sedentos por narrativas criminais sanguinolentas e escandalosas. Publicado em semanários como a Blackwood's Magazine, a história se tornou famosa em toda Europa, chegando à América. O estardalhaço foi tamanho que o famoso autor Robert Louis Stevenson - de O Médico e o Monstro, escreveu um romance baseado no caso e uma peça de teatro foi encenada com enorme sucesso. Até o famoso Museu de cera de Madame Tussaud ganhou uma ala com os assassinos retratados em sua horrenda rotina homicida.

Burke e Hare carregando uma de suas vítimas
Mas o que levou esse seleto grupo a escrever seus nomes entre os mais temidos e mórbidos assassinos de sua época?

Antes de se voltarem para uma vida de crimes, nem William Burke e tampouco William Hare tinham qualquer passagem pela justiça ou histórico de comportamento criminoso. William Burke era natural da Irlanda, um jovem imigrante em busca de oportunidades na cidade grande. Ele havia chegado à Escócia em 1817 para trabalhar como marinheiro, mas acabou servindo como pedreiro na construção do Union Canal. Ele era casado e  tinha duas crianças na Irlanda, mas quando escrevia para a família, era enfático dizendo que eles jamais deveriam se juntar a ele:

"A vida em Edimburgo é terrível, tudo é triste e cinzento. A desesperança está em cada canto. As pessoas não vivem nessa cidade, elas fazem o necessário para sobreviver", escreveu para a esposa. Burke provavelmente conheceu Helen McDougal quando trabalhava na grande obra do canal próximo a Sterling. Em meados de 1828, o casal decidiu viver junto, convivência que resultou em um relacionamento longo de 10 anos que muitos acreditavam ser um casamento respeitável. Burke trabalhava em várias atividades, eventualmente se tornando sapateiro, moleiro e entregador. Ele sabia ler e escrever, o que não era comum para alguém de sua classe social, também era um sujeito charmoso e persuasivo, requisitos necessários para todo assassino em série prolífico.

William Hare também havia chegado a Edimburgo como operário; ele trabalhou na mesma grande obra do canal, vendeu peixe e foi atendente em um pub. Casou-se com Margaret Hare por volta de 1826. Ela era uma viúva; seu marido possuía uma pensão barata em Tanner's Close no West Port, uma das regiões mais pobres e perigosas da cidade. Margaret assumiu o negócio depois da morte do marido. Ela tinha apenas um filho de seu prévio casamento, e outra com Hare. Essa segunda era um bebê na época do julgamento, e portanto, é razoável afirmar que ela estava grávida na época dos horríveis crimes.

Burking
Burke e Hare admitiram a participação em 16 homicídios. Todos que conheciam a dupla e suas esposas afirmaram que as mulheres deviam saber a respeito dos acontecimentos e que provavelmente teriam ajudado nos crimes, ou ao menos facilitado as mortes. Burke e Hare dividiam o dinheiro que recebiam pelas entregas, enquanto Margaret Hare descontava sempre uma libra pelo uso da pensão onde ocorriam as mortes. Muitas pessoas assumem que Helen McDougal era apenas uma cúmplice menor, mas sua ligação com a quadrilha era óbvia. Alguns afirmaram que cabia a ela selecionar muitas das vítimas e direcioná-las para seu fim na pensão. Também provou-se durante o julgamento que ela tinha em sua posse as roupas pertencentes a uma vítima, Mary Paterson. Burke, no entanto, conseguiu livrar sua companheira da forca, afirmando que ela não tivera participação em nenhum dos assassinatos e que ela meramente acreditava que o grupo era parte de uma quadrilha de ressurrecionistas, ladrões de sepulturas. Esses bandos invadiam cemitérios e escavavam sepulturas para abastecer os colégios de medicina com cadáveres recém enterrados. 

O primeiro cadáver obtido por William Burke e William Hare havia morrido de causas naturais na pensão de Hare. Foi a facilidade com a qual o cadáver foi vendido e o alto preço da negociação que fez com que os dois concluíssem que poderiam ficar ricos com essa atividade. Cada cadáver era vendido por oito ou dez libras, uma verdadeira fortuna na época. Um negócio tão bom que Burke teria dito, "só um idiota pararia depois de fazer pela primeira vez." E eles continuaram: entre janeiro a outubro de 1828, mataram um total de três homens, doze mulheres e uma criança. 

Os três homicídios que concentraram a atenção da opinião pública envolviam Mary Paterson, James Wilson (conhecido como Daft Jamie) e Madgy (Margery) Docherty. Paterson, também identificada como Mary Mitchell, era uma "garota das ruas", uma designação comum para as prostituta. Circulavam rumores de que ela era extraordinariamente atraente. Wilson por sua vez era um sujeito bastante conhecido na região, com uma mãe e irmã, que viviam praticamente como vizinhas da Pensão Hare. Docherty a vítima derradeira, e o único cadáver encontrado pela polícia, havia chegado recentemente a Edimburgo e poucas pessoas a conheciam. Essas três vítimas foram as mais citadas no julgamento, e em virtude das estórias descritas nas publicações de época, verdadeiras ou inventadas, são aquelas de que se sabe algo de concreto hoje em dia. Durante o curso do julgamento, Hare entrou em contradição a respeito do número de vítimas, dizendo em determinado momento que havia perdido a conta dos homicídios cometidos. Em outros casos, ele parecia perfeitamente seguro sobre quantas pessoas pereceram em suas mãos. Dezesseis foi o número final, mas a certa altura do inquérito ele reconheceu que poderiam ter sido muito mais, "entre 20 e 30, embora 40 mortes possam não ser um exagero", disse em certa ocasião.

O Dr. Knox, retratado como um Cientista louco de sua época.
O médico Robert Knox, Professor do Royal College of Surgeons de Edinburgh, comprou todos os dezessete cadáveres oferecidos por Burke e Hare. O primeiro havia morrido de causas naturais, mas os demais eram fruto de crimes. Médicos atualmente são unânimes em afirma que ele poderia facilmente concluir que haviam sido vítimas de homicídio. Um simples exame apontaria para violência como causa da morte. As vítimas passavam pelo método de execução da quadrilha, o "burking"  uma maneira eficaz de matar sem danificar demasiadamente o espécime. O papel de Knox, durante o processo sempre foi considerado enigmático. Seu advogado afirmou até o fim que ele desconhecia a procedência dos cadáveres e que acreditava serem eles parte do comércio de defuntos necessário para abastecer os colégios e universidades locais. Os promotores falharam em provar que Knox sabia o que estava acontecendo, e conseguiram apenas que ele fosse culpado de "não perguntar a procedência dos corpos" e por negociar cadáveres para as lições de anatomia. É provável que tendo grande influência na época, Knox tenha conseguido abafar o escândalo se eximindo de culpa. 

Apesar de ter se livrado de uma punição mais severa, Knox ficou marcado pelo caso. Caricaturas dele na época, o comparavam a um açougueiro perguntando aos assassinos se a carne estava fresca. Ele também ganhou o apelido de "Dr. Ghoul" (carniçal) um monstro mítico que devorava cadáveres frescos. Mesmo assim, grandes jornais se limitaram a dar destaque menor a sua participação. Depois do escândalo, Knox foi afastado do Royal College, mas continuou atendendo a clientes e no fim de sua carreira voltou a lecionar para turmas de novos médicos.

É curioso, mas nem todos os cadáveres vendidos a Knox e por conseguinte ao Royal College foram dissecados nas aulas do curso de anatomia. Isso levanta suspeitas de que Knox poderia estar agenciando a venda de cadáveres para outras instituições de ensino. Parte dos cadáveres jamais foram dissecados, ao menos não no Royal College o que gera dúvidas a respeito do destino dos corpos, um tema soturno tratado pela imprensa da época da maneira mais escandalosa possível. Alguns afirmavam que eles teriam sido dissolvidos com ácido e cal virgem afim de aproveitar seus ossos nos mais variados fins (até teclas de piano eles poderiam ter virado!). Outros sugeriam que os cadáveres teriam sido vendidos para inescrupulosos donos de restaurantes que teriam usado a carne fresca para incrementar seu cardápio. Finalmente, haviam aqueles que apontavam para missas negras e cerimônias profanas presididas pelo Hellfire Club (o Clube do Fogo do Inferno), uma instituição que gozava da pior reputação possível.

Filme britânico de 1972 a respeito da vida dos criminosos.
Também existia outra possibilidade. Knox precisava dos cadáveres não apenas para os cursos básicos de anatomia, mas para experiências mais ousadas, entre as quais programas de comparação anatômica que ele coordenava. O médico havia se tornado curador do Museu do Colégio de Cirurgiões de Edimburgo, e também estava escrevendo livros a respeito de anatomia. Entre seus interesses figurava o projeto de criar uma ala no museu em que corpos e partes da anatomia humana seriam expostos, uma forma de desmistificar o temor das pessoas diante da morte. O projeto de Knox, contudo, nunca foi adiante.

O julgamento de dezembro de 1828 chamou a atenção das autoridades competentes para o imoral comércio de cadáveres na Grã-Bretanha uma prática ilegal, mas extremamente difundida e lucrativa. Na primavera anterior ao julgamento, bem antes do público tomar conhecimento a respeito das atividades de Burke e Hare, um comitê do Parlamento foi incumbido de investigar como os Colégios de Medicina e Universidades conseguiam seus espécimes. Os assassinatos em Edimburgo ajudaram a aprovar uma deliberação chamada Ato de Anatomia de 1832.  Através dessa medida, cadáveres de indigentes e de voluntários que aceitavam "vender seus corpos para a ciência" passaram a ser entregues às Instituições, pondo um fim aos negócios dos inescrupulosos Ressurrecionistas. 

Desse mesmo ato surgiu uma espécie de colaboração entre a força policial e as escolas de medicina. Após os crimes, Edimburgo resolveu se modernizar quanto forma de buscar Lei e Ordem. A capital da Escócia tornou-se uma das cidades pioneiras quanto ao emprego de técnicas forenses como auxílio da investigação policial. A cidade foi uma das primeiras da Europa a estabelecer uma polícial de caráter profissional. A colaboração entre polícia e médicos também foi essencial para implementar o uso de técnicas para obtenção de evidências, criação de exames de autópsia e comparação de armas com ferimentos produzidos. A polícia fazia reconhecimento e registro fotográfico, além de muitas outras inovações. 

O Esqueleto de William Burke na Escola de Cirurgiões de Edinburgo
Não por acaso, a força policial de Londres "tomou emprestado" vários procedimentos criados em Edinburgo. Prova disso, é que o Departamento de Investigação da Capital do Império Britânico passou a ser chamado Scotland Yard (Quintal Escocês) em decorrência da quantidade de profissionais especialmente trazidos da Escócia para ensinar suas técnicas.

Os nomes Burke e Hare, no entanto se tornaram sinônimo de medo e crime em Edimburgo, e mesmo hoje são tidos como os mais notórios assassinos da história da Escócia. Ironicamente, o esqueleto de William Burke ainda é usado pela Escola de Medicina de Edinburgo como uma ferramenta de aprendizado, ele se tornou na morte, parte do comércio que fomentou ao longo de sua vida.